Apesar dos sinais mais claros de retomada da economia, terminar o mês com sobras de dinheiro ainda tem sido tarefa difícil para o consumidor brasileiro. Dados apurados pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que, na passagem de janeiro para fevereiro, o percentual de consumidores brasileiros que conseguiram poupar parte da renda oscilou de 18% para 16%. Trata-se do percentual mais baixo da série histórica, que tem início em dezembro de 2016. Em fevereiro de 2018, a maioria (73%) dos consumidores não poupou qualquer quantia, enquanto 7% não souberam ou não quiserem responder. Em média, o valor poupado foi de R$ 498,81.
O objetivo da sondagem é acompanhar, mês a mês, a formação de reserva financeira do brasileiro, destacando a quantidade daqueles que tiveram condições de poupar ao longo dos meses. O indicador abrange 12 capitais das cinco regiões brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador, Fortaleza, Brasília, Goiânia, Manaus e Belém. Juntas, essas cidades somam aproximadamente 80% da população residente nas capitais. A amostra, de 800 casos, foi composta por pessoas com idade superior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais e a margem de confiança de 95%.
A dificuldade para poupar é baixa até mesmo entre os brasileiros de renda mais elevada. Considerando os consumidores que possuem rendimentos compatíveis às classes A e B, pouco mais de um terço (36%) conseguiu guardar dinheiro no mês de fevereiro. Nas classes C, D e E, o percentual de poupadores foi ainda menor, de apenas 11%.
“Ainda sob os efeitos da crise econômica, poucos brasileiros estão conseguindo formar uma poupança para imprevistos ou realizar um sonho de consumo. Além das dificuldades impostas pela crise, guardar dinheiro é um hábito pouco frequente do brasileiro, de modo geral e, nem sempre está relacionado ao tamanho da renda. Brasileiros que ganham menos têm menos margem para gerir o orçamento, mas pessoas com rendimentos altos, que não exercem um controle efetivo de seus gastos, também podem terminar o mês sem dinheiro”, explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Quando indagados sobre o motivo de não terem poupado, 42% justificam ter uma baixa renda, o que torna mais difícil ter sobras nos rendimentos. Dois em cada dez não-poupadores (20%) afirmam ter enfrentado alguma situação de imprevisto e 18% disseram não ter renda no momento. Os que admitem ter perdido o controle do orçamento com gastos excessivos em fevereiro somam 11% da amostra.
Para a economista Marcela Kawauti, pensar na reserva financeira apenas como uma sobra do orçamento é um erro, pois a quantia deve ser guardada com disciplina. “Os apelos ao consumo estão por toda a parte e, se não houver determinação, dificilmente vai sobrar dinheiro no final do mês. A recomendação é separar a reserva financeira assim que o salário entrar na conta, fazendo disso um compromisso mensal”, orienta. De forma geral, apenas 34% dos brasileiros têm o hábito regular de guardar dinheiro, sendo que somente 10% estipulam o valor a ser poupado e 24% guardam apenas o que sobra no fim do mês.
Outro dado é que quatro em cada dez (41%) brasileiros que possuem reserva financeira tiveram de sacar ao menos parte desses recursos no último mês de fevereiro, sendo que para 13% houve a necessidade de lidar com imprevistos, 10% tiveram de pagar alguma dívida e 8% fizeram saques para comprar algo. Considerando os poupadores das classes C, D e E, 47% sacaram seus recursos guardados.
A proteção contra imprevistos, como doença e morte na família, é o principal motivo dos brasileiros que poupam, opção citada por 47% deles. Em seguida, aparecem a garantia de um futuro melhor para a família (30%) e a prevenção contra um eventual desemprego (30%). Há ainda 23% de consumidores que poupam para realizar uma viagem. A formação de uma reserva para a aposentadoria é preocupação de apenas 18% dos poupadores, segundo o indicador. Outras razões são reforma da casa (16%), compra de móveis e eletrodomésticos (14%), estudos (14%) e aquisição da casa própria (13%).
Tradicionalmente, a poupança segue como o destino mais popular entre os brasileiros que guardam dinheiro: 60% depositam seus recursos na caderneta. Outro destino frequente é a conta corrente, com 16% de citações. O levantamento detectou também que em cada dez poupadores, dois (22%) deixam o dinheiro guardado em casa, opção que oferece riscos, pois além de não render juros não é segura para o poupador.
Os fundos de investimento foram citados por 8% desses brasileiros, a previdência privada por 7%. Os CDBs (Certificado de Depósito Bancários) são utilizados por 6% e o Tesouro Direto por 4% dos poupadores. Os que investem em ações na bolsa de valores somam apenas 2% dos consumidores que possuem reservas.
Para os poupadores que fazem as opções mais conservadoras de manter o dinheiro em casa, na conta corrente ou mesmo na poupança, a principal razão foi o fato de não ter dinheiro suficiente para investir em outra modalidade, citada por 24%. Outra razão foi a preferência por ter o dinheiro disponível em lugar fácil de retirar (23%). A falta de conhecimento também foi destacada por 19%, seguida pelo costume em guardar nas modalidades tradicionais (15%).
Para os consultores do SPC, a preferência majoritária pela poupança ou por guardar dinheiro em casa comprova que, mesmo entre aqueles que possuem reserva financeira, não há muita familiaridade com aplicações mais rentáveis e adequadas para os objetivos que se tem em mente. Para propósitos de curto prazo, a poupança é melhor do que manter o dinheiro em casa, pois traz um pouco de rendimento e é mais segura. Para médio ou longo prazo, existem aplicações mais rentáveis, ainda que com menos liquidez.
Por: Mercado & Consumo
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