Esqueça o ar de improviso baratinho: mais bonitos e de melhor qualidade, os adesivos agora são uma solução decorativa eficaz
Daniela Macedo
Revista Veja – Edição 2167 – 02/06/2010
Fotos divulgação e Alexandre Schneider |
HUMOR E BELEZA NAS PAREDES O boneco voodoo, que faz as vezes de porta-chaves, e o adesivo “engana-olhar”: tem-se a ilusão de que a parede é mesmo feita de tijolos |
O que é, o que é? Parece uma parede interna de tijolos recobertos de pátina, mas, ao contrário destes: não requer que se conviva dias a fio com pedreiro e pintor acampados na sala de casa; não necessita de massa, prumo, viagens ao depósito de material de construção e faz-refaz para que se chegue ao resultado pretendido; não produz sujeira na hora da instalação e, depois, pode ser limpo com um simples pano úmido; é bem mais barato e rápido do que a dita parede de tijolos; pode ser posto abaixo em dois tempos, assim que o visual cansar; e não, não é o caro, difícil de assentar e mais difícil ainda de escolher papel de parede. Se alguém pensou em dizer “milagre”, não está tão longe assim da resposta certa: exceto para quem faz questão de materiais autênticos, os adesivos são a solução meio miraculosa com que arquitetos e decoradores hoje se propõem a renovar os ambientes. Graças aos avanços tecnológicos que atenuaram seu ar de improviso baratinho e melhoraram consideravelmente sua resistência e seu acabamento (leia-se: nada de bolhas estragando a lisura da parede ou pontas descoladas nos cantos, com cara de orelhas de cachorro), os adesivos se tornaram uma solução decorativa viável e versátil. Inclusive porque – e eis um ponto fundamental – agora ressurgem muito aprimorados também do ponto de vista do design. De trompe-l’oeil (ou “engana-olhar”) como o da sala que ilustra esta reportagem, que só não imita no tato uma parede de tijolos rústicos, a detalhes bem-humorados como o porta-chaves da foto acima, eles se prestam a um sem-número de usos. E, se bem escolhidos, podem conferir beleza, personalidade ou modernidade aos ambientes.
Fabricados em diversos tamanhos, formatos e cores, os desenhos autocolantes são particularmente indicados aos inquietos. “Eles podem ser renovados com a frequência que se desejar”, diz a arquiteta paulista Débora Aguiar. Mudar a cor de uma parede recoberta de tinta é um trabalhão – em especial quando se tenta esconder com um tom pastel aquele roxo-berinjela que não deu certo. Arrancar papel de parede é uma dor de cabeça, pois pede mão de obra especializada para a raspagem. Já a instalação dos adesivos pode, na maioria dos casos, ser executada por um amador – o dono ou dona da casa. Como são feitos de vinil altamente resistente, eles aguentam recobrir não só paredes, mas objetos sujeitos à manipulação constante, a exemplo de eletrodomésticos e móveis – ou que vivam sob a ação da água, como o interior de cubas e vasos sanitários. Fora de casa, têm sido usados para personalizar minicarros como o Smart, o Mini Cooper e o novo Uno, da Fiat. O Smart Fortwo, por exemplo, conta com uma linha de adesivos próprios para suas formas. “Essa possibilidade de personalização é o que os torna tão atraentes”, diz a arquiteta Clélia Regina Angelo, que adesivou dois ambientes para a Casa Cor, o principal evento de decoração do país, inaugurado na semana passada, em São Paulo.
Divulgação |
EM CASA E FORA DELA O relógio é um adesivo, mas os ponteiros funcionam de verdade; nas ruas, carros adesivados, como o Smart, circulam com o jeitão do dono |
Os adesivos entraram para o ramo da decoração há cerca de dez anos. Mas só recentemente, com o avanço da tecnologia de impressão digital, que garante imagens de altíssima qualidade, puderam ser levados para as paredes das residências. As emendas são imperceptíveis, e é pequeno o risco de se formarem bolhas entre a parede e o revestimento – para reduzi-lo ainda mais, recomenda-se contratar especialistas na sua colocação no caso de áreas mais extensas. “Antes, os arquitetos não tinham nenhuma referência sobre esse trabalho e não entendiam como usar o material”, diz Gina Elimelek, da empresa Tergoprint. “Hoje, os adesivos são uma tendência da arquitetura de interiores e os decoradores pedem a todo tempo novas variações do produto”, diz Monica Lacerda, do Estúdio Giclée. A Gecko, dos designers cariocas Leonardo Conrado e Gabriela Rocha, deu um passo à frente e criou os adesivos-objetos. É o caso do bem-humorado voodoo, criação recente da dupla, que pode ser espetado com parafusos que servem de porta-chaves. “Brincamos com o plano da parede e o objeto que compõe o adesivo para dar uma terceira dimensão ao produto”, diz Conrado. O único cuidado é não errar a mão. “Em casa, o ideal é adesivar uma única parede de cada ambiente, a fim de evitar a poluição visual”, diz Débora Aguiar. O que quer dizer que, ainda que sejam o que há de mais moderno, os adesivos permanecem sujeitos aos dois mandamentos essenciais propostos pelo genial arquiteto alemão Mies van der Rohe: Deus está nos detalhes, é verdade – mas menos é mais.
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