Desde que o Brasil entrou em recessão, no segundo trimestre de 2014, nenhum setor da economia retomou o desempenho anterior
Desde o trimestre entre abril e junho de 2014, quando a economia brasileira entrou em recessão, durante o governo de Dilma Rousseff, todo o setor produtivo aguarda com ansiedade o reaquecimento dos negócios. Tecnicamente, a crise acabou há mais de dois anos, no entanto a recuperação tem sido extremamente lenta, inclusive no setor varejista.
Cinco anos após o início do turbilhão, o varejo brasileiro ainda não conseguiu virar a página. O faturamento do setor, considerando todos os segmentos, está 5,8% abaixo em relação ao patamar pré-crise. E não se trata de uma exceção pois nenhum setor da economia recuperou o desempenho registrado antes da recessão. Em outras atividades, o cenário é pior. O setor de serviços está 11,7% aquém do que registrava no período pré-crise, enquanto a produção industrial segue 16,7% abaixo.
Nesse período, não faltaram previsões de retomada do crescimento, mas o cenário tem se revelado ainda mais complexo do que parecia, até mesmo para os economistas mais experientes. “Há uma diversidade de diagnósticos. Quando se tem isso, é porque ninguém está entendendo direito o que está acontecendo – o que é raro de se ver”, analisa Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim.
Um ponto importante nessa análise é que a maior recessão da história econômica brasileira gerou grande ociosidade na indústria. Padovani lembra que a mudança no ciclo político, com Michel Temer assumindo a presidência em 2016, gerou expectativas positivas. “Mas houve uma frustração, porque a ociosidade era tão grande que mesmo os mais otimistas não investiram”, afirma o economista.
Uma nova onda de otimismo no mercado surgiu no fim do ano passado, após a definição do quadro eleitoral, com a eleição de Jair Bolsonaro. No entanto, o economista Claudio Considera, do Ibre/FGV, avalia que a falta de coordenação do novo governo tem assustado o investidor estrangeiro. A instabilidade política impede, inclusive, o avanço da reforma da previdência, vista pelos investidores como sinal de organização nas contas públicas. “A economia não cresce porque há incerteza em relação à trajetória fiscal, e isso passa pela reforma”, acredita José Carlos Faria, economista-chefe do BNP Paribas para a América Latina.
Por enquanto, um impacto direto no setor varejista é o comportamento de grande parte da população, que está consumindo menos por estar endividada ou simplesmente por ter percebido a necessidade de poupar como antídoto para incertezas em relação a emprego e renda. Esse mesmo fenômeno aconteceu nos EUA depois da forte crise de 2008.
Por: S/A Varejo
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