Conteúdo deve ser relevante, aprovado pelos pais e divertido. Marcas conseguem passar a mensagem que desejam inserindo seus conceitos e produtos de forma sutil.
As crianças de hoje nasceram em uma era digital, acompanhando as novidades tecnológicas com interesse e aprendendo rápido a utilizá-las. De acordo com um estudo do Ibope feito em 2012, por volta de 5,2 milhões de meninos e meninas de 2 a 11 anos navegam na internet em lares brasileiros. A audiência cada vez maior, a grade restrita para publicidade nos canais abertos em horários infantis e o alto preço da veiculação em outras mídias tornam o meio digital atrativo para as marcas se aproximarem deste público.
O contato com estes canais desde cedo faz com que as crianças interajam com tablets e smartphones com mais intimidade e desenvoltura que muitos adultos. Ávido por novidade, este grupo troca de personagens e jogos favoritos com grande velocidade e, para fasciná-lo, é preciso oferecer algo diferente, acessível, com linguagem simples e design divertido.
Além disso, o conteúdo disponibilizado deve se provar relevante para que os pais deem a permissão e incentivem seu consumo. A inserção sutil da marca nesse contexto faz com que os adultos vejam as ações desenvolvidas como iniciativas agregadoras e não apenas com finalidade comercial. “As marcas olham para as crianças, mas também para os pais. Dependendo da estratégia, dialogam e criam canais específicos para os pais para tê-los como parceiros e também porque são decisores”, analisa Alexandre Ravagnani, Diretor Executivo de Criação da F.biz, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Visibilidade e preço acessível
Muitos aspectos fazem do digital um meio relevante para as empresas que focam em crianças, mas três em particular são grandes influenciadores. A realidade contemporânea, em que não estar online pode abrir brechas para a concorrência, os altos preços da veiculação nas mídias tradicionais quando comparadas à internet, e o espaço limitado para publicidade infantil na televisão. Mesmo com as diversas opções em canais fechados, as marcas que desejam falar com um público de classes mais diversificadas encontram emissoras e horários restritos para isso.
A TV Globo, por exemplo, deixou de ter programação infanto-juvenil durante a semana, concentrando-a nas manhãs de sábado, e, com exceção do SBT, poucas emissoras de canal aberto têm blocos focados em desenhos ou produções atrativas para faixas etárias menores. “A concorrência ficou brutal ali, então as marcas infantis precisam buscar outras alternativas de visibilidade. Especialmente porque a TV a cabo tem uma penetração muito mais baixa no Brasil do que em outros países da América Latina, como Colômbia e Argentina”, destaca Marcus Macedo, Diretor do Grupo Exim Licensing Brasil, em entrevista ao portal.
Devido a todos os benefícios oferecidos pela plataforma digital, o Grupo Exim, que licencia marcas como Kung Fu Panda e Ursinhos Carinhosos, está investindo mais nos portais dos personagens e em aplicativos móveis. Enquanto alguns são traduções de versões oficiais estrangeiras, outros necessitam de conteúdos mais personalizados. Pica Pau, por exemplo, ganhará um portal exclusivo no país até 2014 acompanhando o modelo desenvolvido para a personagem Moranguinho.
Conteúdo adequado
O mercado brasileiro é o mais forte mundialmente para a personagem de cabelos rosas, mas até pouco tempo seu site não trazia elementos da cultura brasileira. O canal em português seguia o padrão dos Estados Unidos e da Europa, mas as crianças brasileiras desejavam uma interação diferente com a personagem. Por isso, foi criado um portal com mais opções de entretenimento e uma linguagem mais próxima. “O site que temos hoje dos Power Rangers, por exemplo, atende bem aos meninos mesmo sendo uma versão, mas no caso de Moranguinho, vimos que não podíamos padronizar”, conta Marcus Macedo.
A linguagem e o design são essenciais para chamar a atenção das crianças e dialogar com o universo delas. Além disso, a preocupação com a acessibilidade é ainda maior do que em conteúdos para idades mais avançadas. Sites ou aplicativos complexos são logo descartados. “As cores e os símbolos estimulam muito as crianças. Trabalhar, por exemplo, com um ícone que remete às cores e às imagens presentes no aplicativo as ajudam a fazer a conexão entre as duas coisas”, explica David Reck, Fundador e CEO da agência Enken, em entrevista ao Mundo do Marketing.
O poder que os jogos e outros tipos de formas de interatividade exercem sobre a criança é grande, por isso, as empresas têm um compromisso com a ética e um cuidado redobrado. Mesmo a internet não tendo uma fiscalização tão forte, alguns reguladores estão atentos às ações desenvolvidas. Caso do Instituto Alana, organização civil sem fins lucrativos que monitora possíveis desrespeitos a este público. “As próprias agências e companhias devem se preocupar com determinados detalhes. Até onde deve-se usar termos imperativos, como “compre” ou “peça”, é uma questão a ser levada em conta. Não reter dados de quem tem menos de 13 anos é outra”, exemplifica David Reck.
Foco em pais e filhos
Apesar de as empresas criarem conteúdos com o objetivo de se aproximarem das crianças, a inserção da marca não precisa ser agressiva. Ao fazer uso de Marketing integrado é possível criar uma identificação mesmo sem que o logo apareça. A Lifebuoy, por exemplo, disponibiliza duas músicas em parceria com a Galinha Pintadinha sem mencionar o produto. As canções “Lava Mão” e “Bolha de Sabão” mostram crianças tomando banho com um sabonete vermelho que remete à marca e trazem um conteúdo que dialoga diretamente com a principal mensagem frisada pela empresa: o hábito de lavar mãos cinco vezes por dia.
Assim, e por meio de vinhetas e aplicativos que destacam a cor da marca e a importância da higiene, a Lifebuoy espera passar seus conceitos sem precisar falar diretamente sobre si. “A intenção das marcas deve ser se relacionar, não apenas vender. Isso é importante e perceptível para os pais. Eles é que autorizam e levam o conteúdo para os filhos, então, obviamente vão oferecer algo que seja relevante”, avalia Alexandre Ravagnani, da F.biz, agência responsável pelas ações digitais da marca da Unilever.
Ao interagir com os filhos, as companhias também estão dialogando com os pais e responsáveis, já que são eles que não somente decidem o que as crianças consomem, como compram e determinam as formas de uso. O Toddynho usou o impacto que poderia gerar em ambos os targets a seu favor, estimulando que pais e filhos brincassem juntos por meio de um game que propõem atividades fora do meio virtual. “É algo que começa no digital, mas vai além e incentiva a convivência, ou seja, vai além do produto e entrega valor aos consumidores”, opina Alexandre Ravagnani.
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Por: Mundo do Marketing
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