A nova classe média brasileira teve seu poder de compra abalado no ano passado e passou a cancelar temporariamente a aquisição de produtos que expressavam suas conquistas até 2013. Com isso, foram interrompidos os avanços no perfil de compra da classe média.
“Tivemos um aumento no número de novos itens na cesta de consumo até 2013. Havia expectativa de que esses produtos ‘entrantes’ permanecessem nos lares e sua frequência no carrinho de compras aumentasse. Mas com a piora do quadro econômico, interrompemos esse processo”, disse Christine Pereira, diretora comercial da consultoria Kantar Worldpanel, responsável pelo levantamento.
Segundo a executiva, o volume médio de produtos comprados no varejo pelas classes A e B caiu 3,1% em 2014 e na classe C, recuou 1,3%. Na classe D, houve alta de 3,4%. Na média de todas as camadas sociais, houve leve queda de 0,2% no volume médio em 2014, segundo pesquisa da Kantar obtida pelo Valor.
Depois de medidas tomadas, como a troca de marcas mais caras pelas mais baratas e substituição de produtos, há diminuição da frequência de compra de alguns itens, sem necessariamente substituição por itens equivalentes. É o caso de produtos com preços elevados e que são “novos entrantes” como alvejantes sem cloro, que custam de R$ 10 a R$ 18. Doces e biscoitos, considerados supérfluos, também caíram em frequência na lista, assim como o pós-shampoo. Esses dados fazem parte de pesquisas de consultorias como Kantar, Data Popular e Nielsen no último ano.
Entre os itens que deixaram a lista de compra, mas têm substitutos, estão os iogurtes petit suisse, trocado pelo iogurte comum, mais barato e com rendimento maior. O antisséptico bucal, com potencial de crescimento na classe C, diz a Kantar, manteve frequência de compra em duas vezes por ano.
As mudanças de comportamento de compra refletem a menor renda disponível nas classes C e D, reflexo de maiores pressões inflacionárias, especialmente em alimentos e bebidas, crédito mais caro e elevação nas tarifas públicas. “O consumidor tenta preservar, ao máximo, o status adquirido. Ele já fez trocas de marcas para não abrir mão do produto. Também já passou a comprar em novos canais, como o ‘atacarejo’. Ajustes mais drásticos podem acontecer se o mercado de trabalho se deteriorar, porque o varejo de bens não duráveis depende de renda”, disse Alberto Serrentino, sóciodiretor da Varese Retail.
Em termos de valor desembolsado, o gasto médio do brasileiro subiu 9,4%, alta muito mais relacionada à escalada nos preços dos produtos nas lojas do que com o aumento de compra de lançamentos com preço mais alto – a chamada sofisticação do processo de compra, verificada especialmente entre 2008 e 2010. A pesquisa é realizada semanalmente em 11.300 lares brasileiros, que representam o comportamento de consumo de 50 milhões de domicílios.
Em relação aos canais, o aumento no volume de vendas do “atacarejo” foi de 24% no ano passado, com tíquete médio de R$ 80,22. As cinco maiores varejistas alimentares do país Carrefour, Grupo Pão de Açúcar, Walmart, Cencosud e Zaffari tiveram alta de só 3%.
Fonte: Valor Econômico
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