No período de um mês, 17,6% das solicitações foram feitas por pessoas de 21 a 35 anos com baixa escolaridade.
Os consumidores que mais pediram crédito nos bancos entre janeiro e fevereiro deste ano pertencem ao grupo de jovens adultos da periferia, um dos principais protagonistas da ascensão da nova classe média no País. São pessoas que se inseriram no mercado de consumo parcelando compras por meio de cartão de crédito, crediário e outras formas de parcelamento que sofrem o impacto da alta de juros.
Os dados fazem parte de levantamento da Serasa Experian, que considerou 11 grupos da sociedade, agrupados no estudo Mosaic Brasil, a partir de 400 variáveis que consideram desde estilo de vida até comportamento de consumo e financeiro.
Dos consumidores que buscaram crédito entre os dias 6 de janeiro e 6 de fevereiro de 2015, 17,6% estão no grupo jovens de periferia, formado em sua maior parte por adultos de 21 a 35 anos, na maior parte solteiros e com baixa escolaridade. “Esse grupo entrou mais recentemente no mercado de crédito, ainda não teve oportunidade de se educar financeiramente e tem mais dificuldade para sair de situações de endividamento”, diz Juliana Azuma, superintendente da Serasa Experian.
Dados de dezembro de 2014 mostraram que, de 100 consumidores que estão no grupo jovens adultos de periferia, somente 37 conseguiram se livrar de dívidas e recuperar o acesso ao crédito. Em segundo lugar nos que mais demandaram créditos, estão os que pertencem ao grupo adultos urbanos estabelecidos (17%) – consumidores entre 30 e 60 anos, com renda estável e emprego com carteira assinada. Eles usam o crédito para complementar o poder de compra de bens e serviços e, dessa forma, conquistar produtos que desejam.
Com a alta da inflação e dos juros, podem ter complicações financeiras, e a busca de mais crédito pode ser uma forma de resolver o endividamento. De acordo com a Serasa, outro grupo importante que demandou crédito no início deste ano é o chamado de massa trabalhadora urbana (14,6% do total solicitado de crédito).
Esse grupo de consumidores já havia ocupado o segundo lugar no ranking de segmentos com alto grau de endividamento. São em sua maior parte moradores de favelas, com baixa escolaridade e que trabalham com carteira assinada, mas em funções de menor qualificação e salários mais baixos. Também estão no grupo massa trabalhadora urbana pessoas que se beneficiam de políticas de distribuição de renda e erradicação da pobreza.
“São consumidores com acesso facilitado ao crédito, mas que passam por uma fase de adaptação a essa realidade. Muitos se complicaram e já contraíram dívidas e estão aprendendo a negociar e evitar excessos”, diz a superintendente. Para o consultor Roberto Luís Troster, economista especialista em bancos, o crédito novo para o consumo tem sido muito baixo. “As pessoas estão vivendo em uma espécie de armadilha financeira. Com juros elevados, os consumidores acabam recorrendo a mais crédito para continuar pagando dívidas, especialmente no cartão de crédito.”
O quarto grupo que mais buscou crédito é o denominado donos de negócio (10,2%). São em sua maior parte pequenos e médios empresários, com idade entre 25 e 55 anos, que investiram em um negócio próprio por opção. A demanda por crédito, de uma forma geral, caiu em fevereiro pelo segundo mês consecutivo em fevereiro, segundo dados do indicador Serasa da demanda do consumidor por crédito. O recuo em fevereiro foi de 10,7% na comparação com o mês anterior (fevereiro de 2015 ante janeiro de 2015). Em janeiro, a queda já havia sido de 2,5% ante o mês de dezembro de 2014.
Juros médios praticados no cartão de crédito atingem maior nível dos últimos 16 anos
Os juros que incidem sobre o rotativo do cartão de crédito – quando o consumidor deixa de pagar a fatura integral – alcançaram o maior patamar desde abril de 1999, superando os 290% ao ano, de acordo com pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) divulgada nesta quinta-feira.
Segundo a associação, a taxa cobrada do consumidor na modalidade passou de 11,67% ao mês (ou 276,04% ao ano) em fevereiro para 12,02% mensais (ou 290,43% ao ano) em março, afetada pelos aumentos recentes do juro básico (Selic) pelo Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central).
Em março, os juros médios para pessoa física atingiram 6,71% ao mês (ou 118% ao ano), maior nível desde agosto de 2011. Em fevereiro, a taxa era de 6,6% ao mês (ou 115,32% ao ano). Os juros no cheque especial atingiram o maior patamar desde junho de 2003. A taxa média cobrada em março foi de 9,64% ao mês (ou 201,74% ao ano), ante 9,44% ao mês (ou 195,20% ao ano) em fevereiro.
A Anefac afirma que o aumento da inflação, de impostos e de juros afetam a renda das famílias e elevam o risco de inadimplência. “As expectativas para 2015 são igualmente negativas, o que leva as instituições financeiras a aumentarem suas taxas de juros para compensar prováveis perdas com a elevação da inadimplência”, diz Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor da associação.
A expectativa é de mais aumentos do juro médio, com a possibilidade de novas elevações da Selic nas próximas reuniões do Copom. As seis linhas de crédito pesquisadas pela Anefac registraram aumentos em seus juros em março. Os juros médios cobrados de empresas registraram alta em março, passando de 3,73% em fevereiro (ou 55,19% ao ano) para 3,89% em março (ou 58,08% ao ano).
As três linhas de crédito analisadas viram seus juros subirem. No capital de giro, os juros subiram de 2,15% ao mês em fevereiro para 2,30% em março. Já a taxa de desconto de duplicatas avançou de 2,69% ao mês em fevereiro para 2,74% mensais em março. A conta garantida passou de 6,34% ao mês em fevereiro para 6,64% ao mês em março.
Por: Jornal do Comércio
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