O IPCA divulgado na última sexta-feira (7) foi o primeiro calculado com base na nova estrutura de ponderação que resultou das alterações de hábitos dos consumidores apontadas na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017/2018 e provocou a retirada de alguns itens e a incorporação de outros. A última alteração, feita na POF de 2008/2009, incluía mais seis subitens que foram retirados na atual.
Entre os 56 novos subitens componentes da cesta e que entraram no cálculo do IPCA está o transporte por aplicativo, a integração transporte público, serviços de streaming e o pacote de telefonia, internet e TV por assinatura. Para entrar na lista são avaliadas as respostas dos consumidores ao responder a pesquisa e se o artigo ou serviço tiver mais de 0,07% das despesas das famílias é incluído na lista de ponderação.
“A metodologia [da POF] em si não mudou, a área de abrangência da pesquisa não mudou. É só uma nova estrutura de ponderação. Uma nova cesta de bens e serviços com novos componentes”, informou o gerente do IPCA do IBGE, Pedro Kislanov.
Para o gerente, é importante ter o índice de inflação refletindo, efetivamente, os hábitos de consumo atuais das famílias. “A nossa cesta, anteriormente, era baseada na Pesquisa de Orçamento Familiar de 2008/2009 e ainda trazia alguns componentes que se tornaram obsoletos com o passar do tempo, como a compra de CDs e DVDs e a locação de DVD que saíram da cesta e deram lugar a produtos e serviços mais ligados à tecnologia como os serviços de transporte por aplicativos, de streaming”, disse.
“O transporte por aplicativo foi uma coisa que começou aqui no Brasil em 2013, 2014, enquanto a POF tinha sido em 2013/2014, então a gente não tinha nem resquício disso ainda e ganhou relevância e entrou na cesta de quase todas as áreas. Nas que não entraram foi mais por questão de legislação e passou a ser permitido só no fim da pesquisa”.
Segundo Pedro Kislanov, “outra coisa que entrou foi conserto de aparelho celular que agora ganhou um peso enorme em todas as áreas. Reflete bem a mudança dos hábitos de consumo. Hoje as pessoas compram aparelhos caros e investem em conserto, por exemplo, nas telas do celular. Isso é bem sintomático da mudança de padrão tecnológico”.
Periodicidade para os consumidores
Além de aparelhos de DVD, saíram da lista assinatura de jornal, máquina fotográfica, revelação e cópia, fotografia e filmagem. Na visão de Pedro Kislanov essas alterações no comportamento dos consumidores reforçam a necessidade de manter certa periodicidade de atualização entre uma POF e outra.
Por questão de falta de recursos do IBGE, o intervalo entre as duas últimas pesquisas acabou ultrapassando o período de cinco anos que vinha sendo mantido. Embora ainda não haja previsão para a realização da próxima POF, se for seguir o período de cinco anos, deveria ser feita em 2022/2023. Mas, segundo o gerente, o instituto já avalia a possibilidade de atualiza a cesta por outro tipo de análise de dados.
“A gente está estudando. Existe a possibilidade de ter POFs contínuas, atualizando despesas na parte de contas nacionais, mas isso tudo está em estudo. A princípio a ideia é utilizar pesquisa de orçamentos familiares como foi feita em 2018”, explicou.
Outra mudança de hábito dos consumidores na POF 2017/2018 ficou evidente com a entrada do macarrão instantâneo na lista, que pode ser lida como uma busca por uma alimentação mais rápida e barata. Nesse aspecto, também, está incluído o alimento infantil, que teve peso no relato dos consumidores durante a pesquisa e não estava na cesta.
“A gente acredita que tem muito a ver com a questão de praticidade. As pessoas querendo alimento pronto para consumo na hora. Foi um dos principais destaques da nova POF. Quando as pessoas relatam na POF, fazem com diversos níveis de detalhamento. Se o macarrão instantâneo relatado pelas pessoas ganhar peso e entrar no critério de mais de 0,07%, a gente entra com ele como item separado, porque poderia antes estar dentro de macarrão, agora, ele foi tão importante que virou um subitem à parte”, disse.
Na lista de incluídos na POF 2017/2018, na saúde e cuidados pessoais foram excluídos os artigos ortopédicos, mas os medicamentos antidiabéticos, neurológicos e os óculos de grau entraram para a cesta.
O gerente disse que não tem como afirmar que aumentou o número de consumidores com estes tipos de doenças, porque isso não é o foco da pesquisa, mas é possível identificar que as pessoas estão gastando mais do seu orçamento com este tipo de medicamento. “Se tornaram mais representativos na cesta. Não tenho como dizer que a incidência da doença ficou maior, pode ser também que o preço aumentou e por isso representa uma parcela maior do orçamento da família”.
Setores
No vestuário, saiu o terno e entraram a mochila, a sandália e o chinelo. Já nos artigos de residência, os consumidores valorizaram os consertos de bicicleta .“Apontam também, são indícios que as pessoas estão levando uma vida mais saudável e acabam precisando mais do serviço. O terno também faz sentido. Antigamente tinha uma coisa mais formal e as pessoas precisavam trabalhar mais de terno. Hoje em dia as empresas estão adotando cada vez mais um ambiente mais informal”, observou.
Na comunicação onde houve bastante avanço tecnológico nos últimos anos, saiu o telefone público, mas foram incluídos além do serviço de streaming, o pacote de telefonia, internet e TV por assinatura e,em separado a TV por assinatura.
Também entre os componentes que entraram há alguns que são específicos de uma região e não em outra, como é o caso dos peixes palombeta, filhote e aruanã, encontrados no norte do país.
“A cesta é definida por áreas e depois agrega por Brasil. Então, se aquele peixe foi representativo em uma determinada área ele vai entrar. Aí tem o critério técnico para definir o que vai ou não entrar na cesta. O critério geral é que se ele tiver mais de 0,07 % das despesas das famílias, naquela área entra automaticamente. A cesta Brasil agrega todas as áreas. Nas cestas locais, por exemplo, no Pará vai ter o filhote, em outra vai ter o aruanã e a cesta Brasil vai ter todos eles contemplados”, explicou.
IPC
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV) já incorporou a nova estrutura de ponderação. “Os índices das duas instituições, tanto do IBGE, que é o patrocinador da POF, quanto da FGV, largam 2020 com os pesos dos seus indicadores atualizados pela última POF”, observou o coordenador do IPC, André Braz.
O economista destacou que mesmo no caso do arroz e do feijão, as revisões da POF são importantes porque apesar de serem produtos bastante consumidos, o peso no orçamento pode variar de acordo com o tamanho da família.
“A gente continua contanto com arroz, feijão e carne com plano de saúde e uma série de produtos e serviços, que já faziam parte do IPC antes dessa POF e continuam, mas que são produtos que a gente sabe que não dá para abrir mão. Qual brasileiro que vai abrir mão do arroz e do feijão, por exemplo? Mas a gente aproveita para fazer uma revisão. O arroz e o feijão pesam mais ou menos do que na última POF? A depender do tipo de família pode pesar mais ou menos”, comentou.
“É nessa oportunidade que a gente revisa também o peso daqueles produtos que a gente sabe que não vão sair da pesquisa, vão continua fazendo parte do cálculo da inflação, mas que precisa reinvestigar e entender o quanto esses produtos estão onerando o orçamento familiar”, completou.
Braz afirmou que diante da rapidez do progresso tecnológico já há recomendação internacional para que as revisões da POF sejam pelo menos a cada dois anos para manter a estrutura de ponderação o mais atualizada possível. O economista destacou ainda a importância da atualização da POF para a definição da política monetária do Brasil.
“Se a gente oferece uma inflação bem medida, o Banco Central também, o Copom, fica mais confortável de tomar decisões de corte ou aumento da taxa Selic, IPCs atualizados, é um conforto a mais para a sociedade e também para a autoridade monetária”, concluiu.
Com informações da Agência Brasil
Por: Mercado & Consumo
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