Entre o primeiro trimestre de 2015 e este ano, entre os 10% mais ricos, a renda cresceu.
O aumento da desigualdade no período mais recente vem ocorrendo devido à queda da renda dos mais pobres. Pelo levantamento feito pelo professor da USP Rodolfo Hoffmann, a renda dos que estão na base da pirâmide caiu no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2015. Ou seja, a metade mais pobre da força de trabalho perdeu renda. Já entre os 10% mais ricos, ela cresceu.
O desemprego e a piora do mercado de trabalho, via informalidade, têm recaído com mais intensidade sobre os trabalhadores de menor renda e escolaridade, observa a economista Ana Maria Barufi, do Bradesco. “O desemprego sobe mais entre os que tinham menos qualificação e os que tinham rendimento mais baixo. Isso sugere que os que estão saindo da massa ocupada são os mais pobres”, afirma. “Se o desemprego aumenta nas camadas inferiores da distribuição, é de esperar que a renda dos mais pobres caia mais”, acrescenta.
Pelo estudo de Hoffmann, subiu a fração de pessoas que informaram receber como salário ou renda do trabalho até R$ 600 ao mês. No primeiro trimestre, eram um quarto da força de trabalho – quase 27 milhões de pessoas. Se descontados os desempregados (cuja renda é zero pela metodologia do estudo), são 16 milhões de pessoas.
“A linha de R$ 600 dá ideia da precarização do mercado de trabalho”, diz Barufi, referindo-se a fontes de renda que vêm de bicos e outros trabalhos informais. Hoffmann acredita que o comportamento verificado na força de trabalho vá interferir na desigualdade total – que compara a renda dos domicílios dos dois extremos, somando benefícios.
“Eu apostaria que os dados sobre renda domiciliar per capita também vão mostrar interrupção da queda da desigualdade”, referindo-se à tendência que, para ele, teve início em 1995. Barufi prevê que a desigualdade total vá subir, porém com menos intensidade do que a vista no radar do especialista da USP.
A desigualdade – diferença entre ricos e pobres – aumenta quando há descompasso no ritmo de aumento de renda dos dois extremos.
Entre 2001 e 2014, a desigualdade recuou porque a renda dos mais pobres cresceu mais do que a dos ricos. O velocímetro se inverteu no segundo mandato de Dilma, pelo radar do professor Hoffmann.
Por: Folha de S. Paulo
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