Quanto às remunerações, as mulheres ganharam 33,5% a menos que os salários do homens no ano
Os rendimentos dos gaúchos (incluindo todos os trabalhos) cresceram bem menos do que a média brasileira entre 2017 e 2018, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada ontem, pelo IBGE. Enquanto os moradores do Rio Grande do Sul registraram ganhos mensais médios de R$ 2.444,00 no ano passado (alta de 0,6% sobre 2017), o brasileiro, em geral, recebeu R$ 2.234,00 – um incremento de 2,3% em 2018 sobre o ano anterior. Ao todo, os ganhos somados de cerca de 5,3 milhões de trabalhadores no Estado representaram uma massa salarial mensal de R$ 13 bilhões no ano passado.
Um dado aparentemente positivo divulgado pela Pnad, a redução da desigualdade salarial no Rio Grande do Sul esconde, na verdade, o achatamento de ganhos no Estado. De acordo com a pesquisa do IBGE, enquanto a desigualdade de renda no País alcançou, em 2019, o maior patamar dentro da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012, o índice gaúcho melhorou – mais em razão da queda nos maiores rendimentos do que por aumento da renda em geral.
Coordenador da pesquisa no Estado, Valter Rodrigues explica que os rendimentos do 1% dos gaúchos mais ricos caiu 12% entre 2012 e 2018, passando de uma média de R$ 27.896,00 para R$ 24.424,00. Por outro lado, a média brasileira, nessa mesma faixa, subiu de R$ 25.993,00 para R$ 27.744,00, uma alta de 6,7%. “Já na renda dos 5% da população mais pobre ocorreu o inverso. Ainda que dentro de uma base muito baixa, subiu 16% no Rio Grande do Sul, de R$ 257,00 para R$ 298,00. Com isso, o índice de Gini que mede a desigualdade no Estado melhorou, e a brasileira piorou”, explica Rodrigues.
Com essa redução, nas diferenças entre maiores e menores ganhos, o índice de Gini referente aos rendimentos de todos os tipos de trabalho e renda no Rio Grande do Sul passou de 0,486 em 2012 para 0,462 em 2018 (quando mais perto de 1, pior é a classificação). No Brasil, o índice que mede a desigualdade seguiu na direção contrária e subiu de 0,494 para 0,509, de acordo com Rodrigues.”
Mas vale destacar que se, na média dos rendimentos, o Rio Grande do Sul é menos desigual, não estamos tão bem quando o assunto são as diferenças entre homens e mulheres, e no ranking por raças. Aqui, as disparidades são maiores do que as nacionais nesses dois itens”, lamenta o coordenador da Pnad Contínua no Estado.
No Brasil, o índice de Gini para comparar as diferenças entre ganhos de brancos e negros, por exemplo, é de 0,65, e, no Rio Grande Sul, é de 0,67, relata Rodrigues. No caso das diferentes remunerações médias entre homens e mulheres, a situação ao menos melhorou um pouco. A pesquisa mostra que, em 2012, enquanto os ganhos médios dos gaúchos eram de R$ 2.741,00, as gaúchas recebiam R$ 1.922,00 (cerca de 41,4% a menos). “Em 2018, a diferença permanece, mas é de R$ 2.745,00 para os homens e de R$ 2.056,00 para as mulheres (33,5% a menos)”, segundo Rodrigues.
Economista do Departamento de Economia e Estatística da Secretaria Estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão, Raul Bastos também chama a atenção para o aumento menor na variação do rendimento médio da população residente no Estado frente ao número nacional entre 2017 e 2018. “Pode ser um reflexo, sim, da crise pela qual passa o Estado, mas para fazer uma análise mais detalhada e entender as razões do crescimento menor precisaríamos avaliar como foi esse movimento separadamente em outros estados”, informa Bastos.
Metade dos brasileiros vive com R$ 413,00 mensais; desigualdade atinge nível recorde
A desigualdade de renda no País alcançou patamar recorde em 2018, dentro da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A metade mais pobre da população, quase 104 milhões de brasileiros, vivia com apenas R$ 413,00 mensais, considerando todas as fontes de renda.
No outro extremo, o 1% mais rico – somente 2,1 milhões de pessoas – tinha renda per capita média por residência de R$ 16.297,00 por pessoa. Ou seja, essa pequena fatia mais abastada da população ganhava quase 40 vezes mais que a metade da base da pirâmide populacional. Em todo o País, 10,4 milhões de pessoas (5% da população) sobrevivem com R$ 51,00 mensais, em média. Se considerados os 30% mais pobres, o equivalente a 60,4 milhões de pessoas, a renda média per capita subiria a apenas R$ 269,00.
Mesmo passada a crise econômica, a desigualdade se agravou. A renda domiciliar per capita dos 5% mais pobres caiu 3,8% na passagem de 2017 para 2018. Ao mesmo tempo, a renda da fatia mais rica (1% da população) cresceu 8,2%.
O Índice de Gini da renda domiciliar per capita – medida de desigualdade de renda numa escala de 0 a 1, em que, quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade – subiu de 0,538, em 2017, para 0,545 em 2018, patamar auge na pesquisa.
“Os mais pobres ficaram mais pobres, os mais ricos ficaram mais ricos”, confirmou Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad. Para a pesquisadora, o fenômeno tem relação com a crise no mercado de trabalho, que afetou especialmente o extrato de trabalhadores com menor qualificação e menor remuneração. Com mais pessoas trabalhando, a massa de renda de todas as fontes cresceu de R$ 264,9 bilhões, em 2017, para R$ 277,7 bilhões em 2018. Como a concentração de renda aumentou, os 10% mais pobres detinham apenas 0,8% da massa de rendimentos, enquanto que os 10% mais ricos concentravam 43,1% desse bolo.
Por: Jornal do Comércio – Thiago Copetti
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