Autor: Hermano Mota
Reequilibrar as contas pode ser trabalhoso, mas não tem mistério: o básico é que o total das despesas seja menor que o total das receitas. Você pode fazer uma despesa maior, parcelando-a. As receitas dificilmente podem ser antecipadas. Uma das grandes questões que fazem as pessoas se perderem nas contas são as compras parceladas, com baixo impacto no mês, porém com grande possibilidade de dor de cabeça, quando acumulada além da conta. Abaixo são apresentadas diversas ações que podem ser tomadas para evitar ou sair do endividamento.
Quanto mais fácil a obtenção do crédito, mais caro ele se torna
No marketing há uma lei que diz que, dado um mesmo nível de oferta de um bem ou serviço, o seu preço é diretamente proporcional ao nível de demanda por ele. Para o dinheiro podemos adaptar esta lei ao dizer que o seu custo é inversamente proporcional à facilidade de sua obtenção. Portanto, quanto mais fácil a obtenção de um crédito, mais caro ele tende a ser, ou seja, maiores as taxas de juros embutidas. Isso ocorre por que o crédito fácil exige menos pesquisa para avaliar o real potencial de pagamento do tomador do crédito, aumentando o risco da operação. Um maior risco resulta em maior taxa de juros. Portanto, quando você necessitar de financiamento, procure evitar empresas que prometem crédito na hora e fácil, pois são uma grande armadilha.
O cheque especial ou o cartão de crédito são dois bons exemplos. O uso destes dois meios para a obtenção de crédito não demanda qualquer tipo de comprovação de capacidade de pagamento ou o uso de garantias. Para obter, basta utilizá-los, pois ambos está sempre disponíveis, para quando e como sejam necessários. A contrapartida para um crédito tão fácil é uma taxa que gira em torno de 10% ao mês. Uma taxa que, o que cobra em um mês supera o rendimento anual da maior parte das aplicações financeiras em renda fixa disponíveis no mercado.
Já o desconto em folha, que virou moda recentemente, possui taxas de juro bastante inferiores, pois seu recebimento mensal é certo enquanto não mudarem as condições de trabalho, como demissões dos tomadores de crédito, aumentando os riscos da instituição financeira. Quanto maiores as garantias recebidas por um banco, menor tende a ser a taxa de juros cobrada. Financiamentos de automóveis e imobiliários dão o bem em garantia ao banco e exigem análise financeira detalhada para comprovar a capacidade de pagamento o que, consequentemente, reduz as taxas de juros para patamares ainda menores.
Em resumo, se analisarmos todas as opções de crédito existentes, sejam de bancos ou lojas, concluímos que quase sempre é necessário algum esforço para ter acesso às formas de financiamento mais acessíveis. Sempre que possível, busque as formas mais baratas possíveis para conseguir crédito, mesmo que demore mais tempo.
A velocidade do desejo é maior que a velocidade do possível
Como eterno insatisfeito, o homem busca, em todas as suas ações, aumentar sua satisfação, seja através da compra de produtos ou outras experiências. Os desejos, porém, são infinitos, pois diariamente somos expostos a centenas de estímulos para comprar algum bem ou serviço diferente. A renda disponível, no entando, não permite viabilizar todos estes desejos. Mesmo pessoas com elevado nível de renda têm dificuldade para satisfazer a tudo que desejam.
O estímulo externo é algo natural. As empresas oferecem seus produtos e serviços em busca de consumidores. Cada produto existente no mercado possui centenas de modelos ou opções, para satisfazer à demanda específica do consumidor. O desejo de cada um difere do outro. As características que o produto deve ter, a marca, a cor, o design, a forma de comprar e diferentes características de uso que o consumidor deseja em um produto é diferente e, portanto, a variedade de opções no mercado é enorme e cabe a cada consumidor escolher aquele que mais lhe agrada, garantindo sua satisfação.
Porém, além de variações de um mesmo item, somos bombardeados por infinitos produtos e serviços diferentes, visando capturar uma renda cada vez maior do consumidor. Como não é possível ter tudo ao mesmo tempo, é necessário priorizar seus desejos. Se nós priorizamos e damos tempo ao tempo até conseguirmos realizar nossos desejos, nos satisfazemos e saboreamos cada nova conquista, ao invés de pensarmos em tudo o que ainda não temos. Pense nisso.
Eu realmente preciso disso?
Não se deixe enganar pelos outros. Não leve em consideração o que os outros ou a sociedade acham que você deva ter. Nos deparamos com situações em que as pessoas querem ou precisam ter um determinado produto para serem consideradas membros de uma “categoria”. Quer ser moderno e inovador? Tenha um Apple. Quer ser descolado? Vista Adidas. Estes rótulos reduzem o controle da própria imagem, vinculando-a a certos produtos, a certas formas de ser. Você não precisa comprar algo só por que outros têm.
Controle financeiro é um processo
O controle financeiro é um processo de mudança na forma de agir. Aprender a controlar as despesas, priorizar gastos e traçar um planejamento financeiro é algo contínuo e ininterrupto que requer treino e disciplina. Priorize os gastos essenciais e planeje com cautela os demais. Desejos e outros gastos supérfluos podem e devem ser postergados, se necessário. A recomendação, quando possível, é comprar à vista os gastos não essenciais, permitindo o ganho de rentabilidade na aplicação financeira do valor economizado, descontos na aquisição do produto e a redução da compra por impulso, já que pensar no valor da parcela é mais fácil que despender o valor total. Com disciplina e resistência à tentação de adquirir hoje o que pode, sem prejuízo algum, ser adqurido depois trará bons frutos e tranqüilidade financeira para o dia-a-dia. Esta recomendação é ainda mais importante quando há outras dividas ainda pendentes. Nada mais importante que quitar ou antecipar o pagamento de dívidas antigas, antes de fazer dívidas novas, especialmente de itens não essenciais.
Faça uma lista com todas as suas dívidas
Cartão de crédito, cartão de loja, crediário, contas básicas mensais e débito em conta são exemplos das fontes de dívidas à nossa disposição que se pode ter ao mesmo tempo e, para cada uma destas fontes, há dezenas de opções no mercado. Ou seja, não é improvável ter em nosso círculo de amizade pessoas com uma dezena de cartões de crédito, de débito e de loja somados. Isto, aliado às opções de pagamento a perder de vista pode levar justamente a nos perdermos. Com tantas contas diferentes a pagar por tanto tempo, podemos chegar a um ponto em que não sabemos quanto devemos e, portanto, quanto temos que economizar ou o máximo que ainda é possível gastar para não atingirem um grau de endividamento crítico.
Portanto, em primeiro lugar, pegue todas as suas contas recentes, veja o que ainda está pendente e faça uma lista destas dívidas. A partir desta lista você saberá tudo o que você terá que pagar nos próximos meses e quanto deverá economizar até lá. Caso não seja possível pagar tudo no prazo, você poderá priorizar os pagamentos, conforme a taxa de juros cobrada por cada um e o tipo de conta. Preferencialmente, não deixe de quitar todo o valor da fatura do cartão de crédito mas, se para isso você tiver que atrasar uma outra conta pode ser um bom negócio, dado o custo do atraso de cada uma.
Estabeleça um limite máximo para seu endividamento
Você não pode gastar 100% da sua renda mensal, pois isso impede a formação de poupança como precaução para emergências ou gastos extras no futuro. Estabeleça um limite máximo para seu grau de endividamento mensal. Para estabelecer o limite de endividamento desconte, de sua renda mensal, os gastos essenciais, como moradia, alimentação e transporte. Do valor restante, separe um percentual de sua renda como poupança para os tempos difíceis. Este valor não pode nem ser baixo demais, impedindo a formação de poupança, nem alto demais, com um número irreal que não poderá ser seguido. O ideal é um número entre 10% e 30% da renda restante. Desta forma simples você conseguirá estabelecer um limite de gastos mensais sem prejudicar seu controle financeiro.
Aprenda a dizer “não”
Mesmo que inicialmente seja trabalhoso, é importante ter consciência das próprias limitações financeiras, daquilo que se pode e o que não se pode ter em cada momento. Para agradar, para aproveitar uma oportunidade ou mesmo para pertencer a um determinado grupo, muitas pessoas não possuem o hábito de dizer não quando necessário. Seja para momentos de lazer ou para compras, aprenda a dizer “não” quando necessário, para poder seguir o plano de sair de um estado devedor para um estado credor. Se for necessário reduzir de três para uma vez por semana jantar fora com a família, dia não, faça. Assuma o controle de sua vida financeira para ter controle sobre suas contas.
Pague à vista
Quanto mais formas de crédito e pagamento futuro por algo que é adquirido no presente, menos comuns se tornam as compras à vista. A compra com pagamento no ato tem um grande valor como meio de troca, com grande poder de barganha ao consumidor, especialmente para a compra de produtos, pois o lojista recebe antecipadamente por algo que ele ainda não pagou ao seu fornecedor. À vista tudo fica mais fácil para negociar. Quanto maior o valor do produto para pagar à vista, maior seu poder para negociar descontos.
Peça desconto
Não sinta vergonha de pedir desconto na hora de adquirir um bem ou serviço. A margem cobrada de muitos produtos e serviços é bastante elevada para justamente dar espaço a este tipo de negociação. A maior parte dos empresários preferirá reduzir sua margem de lucro a perder uma venda. Por menor que seja o desconto, se somarmos o impacto ao longo de um mês inteiro, o ganho poderá ser considerável.
Jamais considere o cheque especial uma renda adicional
O cheque especial é um crédito pré-aprovado pelo banco, permanentemente disponível para uso imediato pelo correntista, se necessário. Em emergências, pode ser utilizado para cobrir despesas excepcionais, porém nunca deve ser visto como uma renda adicional, fazendo uso dele como se não houvesse qualquer tipo de contrapartida. Quando utilizado, o saldo negativo resultante deve ser zerado o mais rápido possível, preferencialmente até o dia seguinte à emergência, sob pena de juros superiores a 10% ao mês, elevando ainda mais rapidamente o endividamento. Pessoas que têm no cheque-especial parte de sua “renda” e o utilizam frequentemente estão na pior das situações, pois seu saldo devedor aumenta exponencialmente, dado que à base de cálculo dos juros do mês atual, por exemplo, sempre é acrescido o valor de juros do mês anterior. Cuidado com alguns bancos, pois é comum utilizar a estratégia de mostrar o saldo em conta corrente mais o valor disponível do cheque especial. Isto induz o cliente a pensar que a soma dos dois valores é o que ele tem em conta, percebendo apenas depois que parte deste valor tem custo, e elevado. Portanto, use apenas excepcionalmente o cheque especial e livre-se do saldo devedor o mais rápido possível.
Promoção ou enganação?
No dia-a-dia somos bombardeados com todo tipo de promoção, em uma variedade incrível de opções. Leve 2 e pague 1, 50% de desconto, a segunda peça pela metade do preço, nas compras acima de R$ 200 ganhe um brinde ou concorra a um prêmio, combo promocional, desconto no happy hour, acumule pontos em suas compras e troque por produtos, a cada dez itens um sai de graça e programa de milhagem são algumas das mais comuns. Tenha muito cuidado ao ver estas ofertas, pois não necessariamente as ofertas condizem com a realidade. Grandes ofertas podem ser tentadoras, mas com um pouco de pesquisa de preços você pode se surpreender ao perceber que, em outros locais, este mesmo produto, sem estar em promoção, pode estar com valor ainda menor.
O anúncio de uma promoção pode ser suficiente como incentivo a comprarmos um determinado item, visto que grande parte das compras se dá justamente por impulso. Afinal, se um produto está em promoção é por que deve estar com preço inferior às demais lojas, não? Não necessariamente. Saiba o valor real dos produtos no mercado antes de comprar. Evite cair na tentação a qualquer tipo de anúncio. Pesquise, avalie bem a promoção e todos os fatores envolvidos, como assistência técnica e garantia. Não se deixe levar por falsas liquidações, pois além de incentivar a compra de algo que você não precisa, também pode te levar a pagar mais caro do que o bem realmente custa.
Substitua suas velhas dívidas por novas dívidas que você consiga pagar.
As taxas de juros cobradas das dívidas variam enormemente conforme o risco embutido. Os empréstimos consignados cobram taxas geralmente entre 1% e 3% ao mês, enquanto no cheque especial ou cartão de crédito, este número ultrapassa 10%. Pode parecer estranho fazer dívidas novas para pagar dívidas antigas, mas pode ser uma solução interessante. Se você possui uma dívida no cartão de crédito e está com dificuldade de pagar um valor superior ao pagamento mínimo exigido, é uma boa alternativa buscar um empréstimo bancário a uma taxa menor para quitar o saldo do cartão. O crédito direto ao consumidor, hoje, cobra em média 4% a 5% de juros, menos da metade do cheque especial.
Lembre-se que, de nada adianta substituir as dívidas por outras de menor custo se você não reduzir o seu nível de dívida. Ao perceber que a conta do cartão de crédito está zerada por ter sido substituída por outra, não volte a se endividar no cartão de crédito, pois de outra forma poderá não haver novamente esta alternativa no futuro.
Tente obter uma renda extra
Além de todas as ações necessárias para reduzir o grau de endividamento através da redução de despesas, podemos pensar em aumento de receita. Os aumentos de receita podem se dar buscando uma nova posição de trabalho ou através da busca de uma renda extra através de uma atividade paralela.
Esta renda paralela pode se dar através da venda de produtos de fácil venda ou grande apelo, bem como uma atividade especializada, semelhante à que você já faz no seu dia-a-dia de trabalho. Esta renda paralela pode ser importante para reduzir mais rapidamente seu grau de endividamento.
Por outro lado, há que se tomar cuidado para que esta renda adicional não seja encarada como um ganho mensal constante, permitindo o aumento do nível de gastos. O ideal, por ser uma atividade paralela, é que estes ganhos sejam utilizados prioritariamente para a redução de dívidas e, posteriormente, para a formação de poupança.
O valor adicional obtido pode também ser utilizado, no futuro, para realizar os pequenos luxos que você abdicou para pagar dívidas anteriores. Caso sua situação financeira não esteja crítica, você pode utilizar sua renda principal para economizar e diminuir o seu custo fixo, e a renda extra, esta sim, para realizar pequenos luxos e desejos que você tem. Desta forma, caso sua renda extra diminuir, seus gastos básicos mensais não serão afetados. Portanto, não some a renda extra à sua renda normal como se as duas fossem fixas, evitando que seus custos fixos aumentem ao ponto de você não poder abrir mão da renda adicional.
Orientação da família é essencial para evitar endividamento precoce
Como último aspecto, não menos importante que os anteriores, é a educação financeira precoce. A facilidade para a obtenção de crédito evoluiu e abrange agora todas as faixas etárias, permitindo a um jovem comprar além de sua capacidade financeira. É fundamental orientarmos as pessoas desde jovens a ter uma disciplina financeira, a fim de se tornarem adultos cautelosos com seu dinheiro. Além da educação financeira, o exemplo também deve vir de cima. De nada adianta exigir comedimento dos gastos e aplicação de parte da renda em poupança se os pais têm dificuldade para, eles mesmos, terem uma vida mais credora e menos devedora.
Os pais devem estimular os jovens a programar o seu orçamento, a priorizar gastos e evitar problemas financeiros, participando da formação financeira dos seus filhos a partir do momento que tomarem consciência do valor do dinheiro. O ditado “Não basta ser pai, tem que participar”, normalmente associado com a formação moral dos filhos, se aplica da mesma forma para a formação financeira. Dê o exemplo e cobre uma postura de consciência com relação ao dinheiro e o orçamento disponível. Quando praticado desde cedo, vira hábito e torna a vida mais tranqüila no futuro.
A pressão social pelo consumo
A vida nos centros urbanos, continuamente mais agitado e que dá mais valor ao ter, ao invés do ser, pressiona o ser humano a adquirir a maior quantidade possível de bens e serviços, seja para melhor se posicionar dentro de um grupo ou pela pressão exercida pela família, amigos, sociedade e meios de comunicação. A sociedade cobra que estejamos sempre atualizados com o último modelo de telefone ou de televisão, que tenhamos o sapato de tal marca ou calça de outra. Atualmente, compramos sem fim roupas, comida, bens duráveis e quaisquer outros itens que possam nos fazer sentir bem ou ser mais aceitos, o que talvez represente a mesma coisa.
Esta busca por aceitação ou destaque dentro de algum meio incentiva a compra acelerada e precoce de tudo o que está em voga no momento. Crianças já querem ter o último modelo de smartphone e de tablet, além das marcas de roupa e acessórios mais desejados da moda. A partir dos 18 anos, a pressão é para ter o próprio carro, ganhar mais que os amigos e participar de todos os eventos do momento, para não correr o risco de ser o único a ficar de fora. Tudo isto custa, e muito.
Desde cedo, somos expostos a este círculo de consumo exacerbado que nos faz, aos 20 anos, já querer ter quase tudo o que poderemos levar uma vida inteira para adquirir. Não conseguir parte destes desejos neste processo de antecipação exagerada, pode trazer ansiedade e sofrimento. Percebemos pessoas se comparando umas com as outras, porém focando no aspecto material e não naquilo que nos transforma em pessoas melhores.
Devemos ter a consciência de que adquirir cada coisa pode levar tempo e é desejável que cada coisa seja feita a seu tempo. A sociedade nos cobra uma condição de perfeição em todos os aspectos da vida, que nos desviam a atenção daquilo que é mais importante, como a família, os amigos próximos e a alegria que estes grupos proporcionam em nossas vidas. Não se está aqui fazendo uma apologia à pobreza, mas propondo uma maneira mais frugal para viver.
Compramos sem parar roupas, viagens e outros bens e esquecemos de tudo o que temos para compartilhar com os demais, como o sorriso, o bom humor, a alegria. Uma pessoa é realmente feliz não por tudo o que comprou ou tem, mas por tudo o que semeou ao seu redor e ajudou outras pessoas e sua comunidade a crescer e tornar o seu ambiente melhor.
Isto pressupõe olhar mais para fora e menos para dentro. Enquanto só olharmos para dentro, seguiremos comprando sem parar, e continuaremos nos sentindo vazios e insatisfeitos. Quando olhamos mais para fora, a visão de completude e de satisfação não vem dos bens que se tem, auxiliando a atingir um equilíbrio entre ter e ser, reduzindo consideravelmente as chances de uma vida de dívidas. Portanto, o maior segredo para evitar dívidas excessivas é ser feliz junto às pessoas próximas, aproveitando todos os momentos de convivência e esta troca de amor, afeto e companheirismo.
Treine isso e seja feliz.
Autor: Hermano Mota
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