As vendas do comércio varejista caíram 0,1% em outubro, na comparação com setembro, na terceira retração mensal consecutiva, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação com outubro do ano passado, houve queda de 7,1% – também a terceira queda seguida.
O resultado veio menor do que o esperado. A expectativa era de alta de 0,8% na base mensal e queda de 5,60% na comparação anual, conforme pesquisa da Reuters.
O IBGE revisou o resultado de setembro, para uma queda menos acentuada, de -1,1%, ante leitura inicial de -1,3%. Já o índice de agosto foi atualizado de -4,3% para -4,1%.
Desaceleração da economia
No ano, setor ainda acumula crescimento de 2,6%. Em 12 meses até outubro, a alta desacelerou para 2,6%, contra 3,9% nos 12 meses imediatamente anteriores, evidenciando a perda de fôlego da economia.
A receita nominal do varejo teve alta de 0,7% em outubro, frente a setembro. Na comparação com outubro de 2020, houve alta de 6,2%.
O volume de vendas, entretanto, cresceu em 17 das 27 unidades da federação, com destaque para: Acre (3,0%), Alagoas (2,4%) e Rondônia (2,4%). Já as maiores quedas foram registradas no Amapá (-2,8%), Roraima (-2,3%) e Rio de Janeiro (-2,2%).
Veja o desempenho de cada um dos segmentos em outubro, na comparação com setembro:
- Combustíveis e lubrificantes: -0,3%
- Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: -0,3%
- Tecidos, vestuário e calçados: 0,6%
- Móveis e eletrodomésticos: -0,5%
- Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: -0,1%
- Livros, jornais, revistas e papelaria: -1,1%
- Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: 5,6%
- Outros artigos de uso pessoal e doméstico: 1,4%
- Veículos, motos, partes e peças: -0,5% (varejo ampliado)
- Material de construção: -0,9% (varejo ampliado)
No comércio varejista ampliado, que inclui, além do varejo, as atividades de veículos, motos, partes e peças e material de construção, a queda foi de 0,9% em relação a setembro e de 7,1% na comparação anual.
O que puxou a queda
Em outubro, cinco das oito atividades pesquisadas tiveram queda, com destaque para Livros, jornais, revistas e papelaria (-1,1%), Móveis e eletrodomésticos (-0,5%), Combustíveis e lubrificantes (-0,3%), e Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,3%).
“A inflação continua exercendo impacto nos indicadores, uma vez que a variação de receita nominal de vendas do varejo é positiva, na passagem de setembro para outubro, em 0,9%. Tal impacto pode ser observado sobretudo nas atividades de Combustíveis e lubrificantes, Hiper e supermercados e Tecidos, vestuário e calçados”, destacou o IBGE.
Com o novo recuo, o nível de vendas dos supermercados, que tem um peso grande no índice, agora está 0,2% abaixo do patamar pré-pandemia.
Com as revisões dos meses anteriores, a atividade no comércio geral voltou a ficar em níveis abaixo da pré-pandemia, em queda de 0,1%. A última vez que o setor havia caído abaixo desse patamar tinha sido em março passado, quando ficou 0,9% aquém de fevereiro de 2020.
Já o forte recuou na comparação interanual, segundo o IBGE, é explicada principalmente pela base de comparação.
“Em outubro e novembro do ano passado, tivemos o recorde da série histórica da PMC. Isso significa que a base de comparação estava bastante elevada. Essa queda foi bastante equilibrada entre todas as atividades, que ficaram no campo negativo”, afirmou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Piora das expectativas
Na avaliação do economista-chefe da Necton, André Perfeito, o resultado abaixo das expectativas mostra que o 4º trimestre “começou mal” e reforça a perspectiva de desaceleração.
No 3º trimestre, o PIB (Produto Interno Bruto) caiu 0,1%, colocando o país em recessão técnica. O comércio acompanhou a retração da economia e acumulou queda de 0,4% na comparação com o trimestre anterior, voltando a ficar abaixo do patamar pré-pandemia.
A desaceleração do setor vem sendo pressionada pela escalada da inflação, queda de renda das famílias, aumento do endividamento e desemprego ainda elevado no país. A confiança do consumidor cai em novembro para o menor nível desde abril, segundo sondagem da Fundação Getúlio Vargas.
Na semana passada, o IBGE mostrou que a produção industrial caiu 0,6% em outubro, na comparação com setembro, na quinta retração mensal consecutiva. O mercado financeiro tem revisado para baixo as projeções de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e elevado as estimativas para a inflação e para a taxa básica de juros (Selic).
Os analistas projetam atualmente uma inflação de 10,18% em 2021, segundo o último boletim Focus do Banco Central. Para 2022, a previsão subiu para 5,02%. Para a Selic, a projeção é de uma taxa de 9,25% ao fim de 2021, chegando a 11,25% ao ano em 2022.
Para a alta do PIB deste ano, o mercado passou a projetar um avanço de 4,71%. Já a previsão de crescimento para o ano que vem agora está em apenas 0,51%. E parte dos analistas já fala em estagnação e até mesmo uma nova recessão.
“Em linhas gerais, as atividades varejistas permanecem em trajetória cadente em meio à inflação persistentemente elevada, aperto das condições financeiras, aumento do endividamento das famílias e deslocamento de maior proporção do consumo privado do mercado de bens para o setor de serviços (decorrente da flexibilização das restrições sanitárias e maior mobilidade)”, destacou Rodolfo Margato, economista da XP, acrescentando em relatório ao mercado que a recuperação do nível de emprego e a implementação do Auxílio Brasil “permitirão algum crescimento da massa de renda ampliada disponível às famílias em 2022, ainda que modestamente”.
A Confederação Nacional do Comércio de Bens (CNC) revisou de +3,6% para +3,1% sua expectativa de variação do volume de vendas do comércio varejista para este ano e passou a projetar avanço de 1,2% para o setor em 2022.
Por: G1, Darlan Alvarenga
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