Endinheirados, bilionários, milionários estavam sumidos das estatísticas. Em tempos em que a nova classe média é protagonista, uma pesquisa do mercado de luxo propõe um olhar para o consumidor de alto poder aquisitivo e aponta oportunidades. “O grande desafio do setor é democratizar o luxo sem popularizar”, afirma o presidente da MCF Consultoria, Carlos Ferreirinha. Essa é uma equação nada fácil que as empresas estão tentando resolver; afinal, é preciso manter o desejo pela marca e a questão da exclusividade. Mas é necessário buscar novos clientes, pois se estima que a penetração dos produtos de luxo seja de apenas 2,5% no mercado brasileiro. Isso significa que atinge apenas a classe A1 e parte da A2. No total, a classe A representa 4,5% da população do País.
Em 2010, o segmento faturou US$ 15,7 bilhões, um incremento de 28% em relação a 2009. Para este ano, a projeção é crescer 33%, atingindo os R$ 20 bilhões, segundo dados da quinta edição da pesquisa “Mercado de luxo no Brasil”, feita pela GfK e MCF Consultoria. Do total de 230 empresas do setor de luxo, 79 responderam à pesquisa no ano passado.
O mercado de luxo é só otimismo no Brasil. O estudo mostra que 46% das empresas tiveram percepção de que o faturamento foi maior em 2010 em relação a 2009. Os empresários planejam abrir novas lojas, fortalecer a imagem de marca e investir nas redes sociais. Cerca de 60% das empresas de luxo utilizam as redes sociais para divulgação, em especial o Twitter e o Facebook. Neste ano, a previsão é que o setor invista 22% do faturamento, o equivalente a US$ 2,57 bilhões.
Economia aquecida, alta das commodities, grande fluxo de investimentos estrangeiros, realização da Copa do Mundo de Futebol e Olimpíadas são motivos de atração também para os empresários do luxo. “No longo prazo, países que sediam Copa e Olimpíadas crescem 1,5% acima da média”, afirma o economista-chefe do Private Bank do Banco do Brasil, Deonísio Liberato.
Hoje a renda per capita no Brasil é de US$ 10 milhões, mas nos próximos dez anos a expectativa é alcançar US$ 22 milhões. “Com isso, o brasileiro vai demandar mais serviços e produtos, e desencadear um grande movimento na economia. Todos esses fatores compõem um cenário favorável ao Brasil e o tornam atrativo para o mercado de luxo”, diz Liberato. O maior obstáculo para 67% dos empresários é a elevada carga tributária.
Outro dado que indica esse potencial é a mudança da estrutura demográfica no Brasil – a fecundidade tende a diminuir e a longevidade aumentar. Segundo Carramenha, o Brasil acaba de entrar no período chamado bônus demográfico e que deve seguir pelos próximos 30 anos; esse fenômeno ocorre quando o porcentual de pessoas em idade ativa (adultos) cresce mais do que de dependentes (crianças e idosos), o que significa mais dinheiro circulando na economia.
Potenciais compradores
De acordo com o presidente da GfK, Paulo Carramenha, se as marcas de luxo passarem a direcionar suas estratégias também para a classe A2 e B1, que é apenas uma parte da classe média alta, cerca de 26 milhões de pessoas passariam a ser potenciais compradores, ou o número de consumidores seria multiplicado por seis. Os empresários do setor mostram disposição em tornar o luxo mais acessível. De acordo com a pesquisa, 71% dos dirigentes são adeptos à democratização do acesso à marca, e acreditam que uma marca de luxo não precisa ser exclusiva e de difícil acesso. Diminuir um pouco o nível dos preços não está descartado pelas empresas, mas não se fala muito nisso. O estudo detectou que as marcas de luxo têm oportunidade para atingir os idosos, que têm maior longevidade e poder de consumo hoje em dia, e os jovens, um universo ainda pouco explorado.
A facilidade do crédito também favorece o desenvolvimento do mercado de luxo. Cerca de 70% das compras são parceladas em cartões de crédito ou cheques. Esse é um fator que tem motivado os brasileiros a comprar mais itens de luxo aqui do que no exterior nos últimos anos.
Perfil de consumidores
A maioria dos consumidores de produtos de luxo no Brasil tem entre 35 e 55 anos; 60% estão já acostumados a comprar, enquanto 40% são novos compradores. Os homens são a maior parte dos clientes – 51% contra 49% das mulheres. Na última década, o perfil do consumidor de luxo mudou, na opinião de Ferreirinha. “Antes as empresas sabiam a quem atendiam – o consumidor tinha nome e sobrenome – hoje não é tão fácil reconhecer esse perfil”, declara.
Preço é o que menos importa quando se fala em produtos de luxo. O que o consumidor mais valoriza é a glamour da marca, a exclusividade dos produtos e serviços, e o atendimento personalizado. Nos Estados Unidos, apenas 25% dos consumidores têm contato constante com atendentes de lojas de luxo. No entanto essas pessoas chegam a gastar quase o dobro em compras pelo fato de se relacionarem com o atendente ou o gerente.
As cidades mais promissoras para a expansão das marcas de luxo neste ano são Belo Horizonte, Brasília e Curitiba. São Paulo e Rio continuam sendo mercados representativos, pois são locais onde vivem os bilionários brasileiros.
Segundo Ferreirinha, as cidades do interior do País, em especial das regiões Norte e Nordeste, também são potenciais clientes do mercado de luxo. “A renda nesses locais não é tão alta, mas as pessoas têm uma vontade de consumir fora do comum, ao contrário do Sul do Brasil, que precisa consumir, mas faz isso com sentimento de culpa.
Fonte: Consumidor Moderno
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