A desaceleração econômica interrompeu o processo de ganhos no poder de compra do consumidor em 2014 e a maioria das varejistas foi afetada por isso. Oito entre dez brasileiros têm ido com igual ou menor frequência às lojas em relação a 2013, apenas 15% aumentaram as visitas ao comércio. Pouco mais da metade daqueles que reduziram as visitas tomaram essa decisão para cortar gastos.
Os dados fazem parte de um levantamento feito pela consultoria em gestão Advisia OC&C, realizado em 10 países, com 32 mil pessoas, sendo dois mil consumidores brasileiros. Segundo o estudo, obtido pelo Valor, o Brasil é o País que mais sentiu o desaparecimento dos clientes das lojas.
Mesmo entre os 15% que informaram ter aumentado o número de visitas, cerca de 80% destes disseram que isso ocorreu porque trocaram de loja para buscar uma “melhor relação custo benefício”, informa o relatório. “Eles estão indo mais vezes em lojas com melhor percepção de valor, muitas vezes, lojas mais baratas”, disse Daniel Wada, sócio da Advisia OC&C.
Por conta dessa mudança de hábitos, dois terços das redes de varejo (67%) sentiram a queda no tráfego nas lojas em relação a 2013, segundo a pesquisa com clientes que apontaram as redes que passaram a visitar menos. Menos pessoas nos corredores exige postura mais agressiva das redes em preços para aumentar tráfego. E excesso de liquidações pode afetar rentabibilidade das cadeias, se a estratégia promocional adotada não for bem dosada, lembra Antonio Coriolano, sócio da Retail Consulting.
Com base nesta taxa de 67%, portanto, é possível afirmar que 33 das 50 redes tiveram diminuição nas visitas, com base nos nomes de redes identificadas pelos clientes. Entre as 50 redes estão líderes de mercado em cada categoria, como Casas Bahia, Magazine Luiza, Carrefour, Walmart, Raia, Drogasil, e também os sites, como Netshoes e Dafiti. O relatório não informa as redes que perderam volume.
A França é o segundo país com maior número de varejistas com queda em frequência (35%), seguida da Alemanha (31%). No mercado americano, apenas 1% das cadeias redes foram citadas como locais onde os clientes têm frequentado menos.
Por lá, 46% das lojas tiveram aumento de frequência. “Quando você olha a pesquisa nos Estados Unidos e no Brasil, parecem dois mundos opostos. Enquanto os indicadores no varejo por lá mostram recuperação, por aqui, é o contrário, com frequência e gasto menores”, disse Wada.
Ao se abrir com mais detalhe os números, o levantamento mostra que 54% das pessoas que estão indo menos às lojas no Brasil, tomam essa decisão para gastar menos. O levantamento avaliou todas as camadas de renda (de A a E), com pesos iguais para cada uma. Parte dos dados gerais, a respeito dos dez países analisados, foram apresentados na última edição europeia da World Retail Congress, em Paris, em outubro. As informações sobre o mercado brasileiro não foram divulgadas no evento. Este é o segundo ano da pesquisa e, na primeira edição, essas questões não foram levantadas logo, não há base de comparação com pesquisa anterior.
Principal fator que, na avaliação de especialistas, afastam clientes das lojas é a queda na confiança do consumidor na economia, que deixa clientes relutantes em aumentar gastos. “A perda de confiança reflete questões práticas como dúvidas se o consumidor terá ou não emprego em 2015, e se conseguirá manter renda da família. São questões objetivas que norteiam hoje a decisão de gastar mais ou menos”, afirma o sócio. O ICC (Índice de confiança do consumidor) atingiu neste ano seu pior patamar desde 2008.
A taxa recuou 6,1% em novembro na comparação com outubro, ao atingir 95,3 pontos, menor nível desde dezembro de 2008, segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas). Isso ocorre ao mesmo tempo em que o varejo amarga o seu pior ano na década. Dados da PMC (Pesquisa Mensal do Comércio) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que, de janeiro a outubro, o índice de volume de vendas do varejo subiu 2,5%. É a menor taxa já verificada desde, pelo menos, 2004.
O levantamento da Advisia foi concluído em agosto, portanto, a pesquisa foi feita num período pré eleitoral, com indefinições no campo político e previsão de desaceleração econômica em 2014, como se confirmou.
Fonte: Valor Econômico
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