Empresa dos sonhos dos jovens 2011 (e seu líder inspirador)

Fonte: Revista HSM Management 87 • Julho-Agosto 2011

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• Mais da metade (56%) dos jovens do Brasil deixaria a empresa empregadora se seu gestor revelasse falta de ética e não alinhamento com os valores da organização. Nos chefes, não é a capacidade de desenvolver talentos que mais os encanta: 28% apontam que um líder deve ser capaz, sobretudo, de enxergar seus subordinados, conhecendo realmente os interesses, as habilidades e os valores deles.

• Nesta pesquisa realizada em 2011, a autoconfiança dos jovens se confirma elevada: 88% dos recém-formados se consideram preparados para o mercado de trabalho, acreditando possuir as competências que as organizações solicitam, e 41% acham que em dois ou três anos estarão aptos a exercer a liderança.

• Para os entrevistados, o sucesso profissional é algo que requer aproveitar as oportunidades que surgem (22%), fazer o que dá prazer (18%) e saber planejar a carreira ou negócio (11%). Eles redefinem o sucesso como uma mistura de ascensão na carreira e sonhos –diferentemente da noção anterior de sucesso, muito relacionada com cargos e rendimentos.

Segundo estudo Cia de Ta lentos, jovens do Brasil utilizam como filtro valores como ética , transparência e comprometimento com os negócios para escolher as organizações em que gostariam de traba lhar e os líderes que mais admiram. Jovens da Argentina, México e Colômbia mostram ter o mesmo sentimento.

Toda empresa busca a renovação de seus profissionais como forma de alimentar seu negócio e mercados.

Toda empresa sabe que isso depende diretamente dos jovens que estão entrando ali agora e passarão a liderá-la em um futuro não muito distante.

Toda empresa busca –na verdade, precisa– saber: o que querem os jovens? E, mais especificamente, toda empresa que atua no Brasil se pergunta neste instante: o que querem nossos jovens?

Como aponta a 10ª edição da pesquisa Empresa dos Sonhos dos Jovens, realizada com 40.445 jovens universitários e recém-formados do Brasil pela Cia de Talentos, em parceria com a NextView People e a TNS Research International, eles querem, mais do que nunca, transparência nas relações de trabalho.

Trata-se de uma versão contemporânea do idealismo vivido pela geração baby boomer –afeita a visão, missão, princípios e valores bem definidos. Os jovens pretendem ingressar em empresas que, acima de tudo, cultivem a ética. Não apenas a ética de discurso, mas a prática ética.

Mais da metade dos entrevistados (56%) declarou que deixaria a empresa se o gestor revelasse falta de ética e não alinhamento com os valores da organização. Trata-se de um percentual superior ao dos que fariam o mesmo caso o gestor não reconhecesse a qualidade dos colegas de equipe (19%) ou se ele demonstrasse insegurança e falta de domínio no negócio (13%). Vale dizer que a ética também é apontada como fator essencial pelos jovens da Argentina, México e Colômbia, onde a pesquisa igualmente foi realizada, em uma evidência mais do que provável de que esse conceito está mesmo na ordem do dia da geração –em toda a América Latina.

Ética e honestidade foram explicitados como os valores e crenças mais importantes para 24% dos jovens entrevistados em 2011, seguidos por felicidade e responsabilidade, com 10% cada um, e bem antes de competência (7%) e sabedoria (6%), vistos como mais “técnicos”. A ética é considerada por rapazes e moças uma característica intrínseca à liderança e sem a qual não há, simplesmente, perspectivas de carreira.

Outro ponto de honra para muitos desses jovens parece ser um gestor, e uma empresa, que olhe para eles e realmente os enxergue. Quando mencionam os valores que não podem faltar em um executivo, quase um terço dos entrevistados (28%) aponta o conhecimento de interesses, habilidades e valores do profissional que ele tem na equipe.

Ou seja, do chefe eles esperam sensibilidade para entendê-los antes de tentar, por exemplo, auxiliá-los no desenvolvimento de suas potencialidades, característica que aparece em segundo lugar, com 17% das respostas. Ser um exemplo que valha a pena ser seguido e, de novo, ter ética são bastante mencionados nas respostas, cada qual com 9%.

OS AVÓS BOOMERS E A VISÃO DO LÍDER IDEAL

A participação efetiva das mulheres da geração X –nascidas nos anos 1960– no mercado de trabalho fez com que os avós tivessem contribuição decisiva na criação desses integrantes da geração Y, que agora começam a aportar nas empresas como trainees. Apesar de terem os pais como modelos, os ensinamentos dos avós, aliados à situação socioeconômica estável no Brasil, levaram esses jovens a adotar a persistência e a determinação como pilares importantes para a construção de uma carreira. Ou seja, acreditam que seu sucesso só depende deles mesmos.

Esses valores caros à geração boomer do pós-guerra se manifestam também na visão que os profissionais Y têm de um líder ideal. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como líder mais admirado não é de estranhar. Ele sintetiza essa ideia muito bem, sendo apontado como uma figura que superou barreiras, venceu preconceitos, teve persistência e determinação, tem carisma, competência e humildade. Obama já havia conquistado o primeiro posto em 2009 e estava em segundo lugar na pesquisa de 2010, ano em que se elegeu (Roberto Justus foi o número um então, caindo agora para a sexta posição, após o encerramento de suas apresentações do reality show O Aprendiz). A performance de Obama foi repetida neste ano também, porque ele esteve no Brasil e teve grande exposição em nossa mídia, que tem forte influência sobre esse público.

Do mesmo modo, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva aparece no segundo posto no ranking dos mais admirados, caracterizado com traços semelhantes aos de Obama, incluindo a transformação de seus sonhos em realidade –atingira o terceiro posto nos dois anos anteriores.

Steve Jobs surge na terceira posição para os jovens brasileiros, o primeiro do meio empresarial, identificado por seu empreendedorismo, competência, inteligência e visão global e de negócios– vale observar que, para argentinos e colombianos, é Jobs o líder número um.

É também um empresário e gestor, o brasileiro Eike Batista, que ocupa o quarto lugar. E os motivos alegados para sua inclusão são basicamente os mesmos atribuídos a Jobs e não o fato de ser o mais rico dos brasileiros (ou um dos dez maiores bilionários do mundo).

Os jovens mexicanos colocaram um empresário na posição máxima: o megaempresário Carlos Slim, notadamente por sua visão de negócios e empreendedorismo –ele fica à frente de Jobs, Obama, Mark Zuckerberg e Bill Gates ali.

Quanto a líderes do sexo feminino, na amostra brasileira, Dilma Rousseff aparece em quinto lugar, reconhecida por quebrar barreiras e vencer preconceitos –afinal, tornou-se a primeira mulher presidente de um país tido como relativamente machista como o Brasil–, pela persistência e determinação e pela competência e coragem, que foram, não à toa, os símbolos de sua campanha política.

Na amostra argentina, a presidente argentina Cristina Kirchner foi a segunda líder mais admirada. Atribuíram-lhe, além de persistência e determinação, inteligência e mencionaram a causa que defende e o saber lidar com pressão; ali Lula apareceu em terceiro lugar, seguido por Nelson Mandela e pelo chefe direto atual do jovem respondente, seja ele quem for. Dado curioso, o chefe direto, no Brasil, vem no final –em 10º lugar.

Um dado alarmante, talvez: 43% não se identificam com nenhum líder da atualidade. É pior em outros países, como México (47%), Colômbia (48%) e Argentina (72%). Os jovens se espelham em seus colegas como elementos de ligação e vínculo com a realidade do mercado de trabalho. Estes são a referência para 21,7% dos entrevistados pela pesquisa.

PRONTOS PARA LIDERAR?

O que os jovens pensam que as empresas esperam deles?

• Comprometimento.
• Capacidade de aprender.
• Espírito empreendedor.
• Motivação.
• Trabalho em equipe.

E, mais interessante, eles acreditam possuir tudo isso. Autossuficientes e movidos por desafios, os jovens saídos das universidades se acham aptos, em 88% dos casos, até para ocupar cargos de liderança –apenas com a “bagagem” dos bancos escolares. Somente 6% admitem que lhes falta experiência na área em que atuam.

Quando a pergunta é mais direta, contudo, eles recuam: cerca de 9% dos jovens brasileiros afirmam estar preparados para assumir postos gerenciais e 19% dizem que o estarão dentro de um ano. A maioria (41%) diz que essa prontidão pode levar ainda uns dois ou três anos, porém não mais. Esses números guardam proximidade com os de seus colegas colombianos.

Mais do que pretensão, como talvez isso seja encarado por um representante da geração X, trata-se de uma visão autoconfiante e otimista. No Brasil, apenas 7% acham que demorarão pelo menos cinco anos para ser líderes e 1% não quer sê-lo de jeito algum. Vê-se um pessimismo, ou insegurança, bem maior na vizinha Argentina, por exemplo, onde 16% não esperam gerenciar nada em menos de cinco anos e 2% não querem comandar ninguém nunca.

A autossuficiência não é só retórica. Diferentemente da geração anterior, que possuía um leque menor de conhecimentos, os jovens Y se preocupam em dominar o instrumental de competências requeridas pelo mercado: 88% se consideram bem preparados. Além disso, bombardeados por informação e integrados à diversidade de pontos de vista propiciada pela era digital, são capazes de executar várias tarefas ao mesmo tempo. Em sua opinião, essa visão mais abrangente lhes permite identificar com rapidez problemas, propor soluções e traçar cenários. Para efetivá-lo, acreditam que só lhes falta aprender a:

• Aproveitar as oportunidades que surgem (22%);
• Fazer o que lhes dá prazer (18%);
• Planejar bem a carreira ou negócio (11%);
• Ser persistentes (8%).

EMPRESA IDEAL

A escolha da “empresa dos sonhos” para trabalhar é feita com base na proposta que ela transmite de desenvolvimento profissional e desafios, da imagem positiva no mercado, do bom ambiente de trabalho e da possibilidade de uma carreira internacional. Nesse aspecto, os jovens dos quatro países envolvidos na pesquisa têm a mesma visão. Não há dúvida de que a mídia exerce papel importante na escolha de uma empresa dos sonhos para trabalhar: 20,4% declararam que escolhem a empresa de seus sonhos pelos meios de comunicação (jornal, revista, TV, rádio, revista, blog etc.) –isso não significa, contudo, que os jovens acompanhem perfis empresariais nas redes sociais, porque apenas 37% mostram interesse a esse respeito.

Algo que chama particularmente a atenção, contudo, é que 41% dos entrevistados imaginam que sua relação com a companhia empregadora será de longa duração –leia-se: superior a 20 anos. Curiosamente, a qualidade de vida proporcionada deixou de figurar entre os requisitos de escolha do ranking 2011, como acontecia na lista de 2010, quando vinha em terceiro lugar, atrás apenas de bom ambiente de trabalho e oportunidade de desenvolvimento profissional. A alteração no ranking indica que os jovens estão sedentos de desafios e voltam a querer se doar no início de carreira. (Não que tenham abandonado o desejo de qualidade de vida; este apenas deixou de ser prioridade imediata.)

É justamente nesse contexto desafiador que se explica o Google no topo do ranking das empresas dos sonhos de 2011 entre os jovens brasileiros –e também entre os argentinos. Eles apreciam a inovação, liberdade, criatividade e autonomia demonstradas por essa multinacional.

Mas, assim como para os colombianos (Ecopetrol), a segunda posição entre os brasileiros fica com uma empresa nacional petrolífera, a Petrobras, destacada por valores como sustentabilidade, desenvolvimento, responsabilidade social, crescimento e inovação. O terceiro posto é da Unilever, presença tradicionalíssima e sempre vista como ótima desenvolvedora de talentos, também bem colocada no México (1º lugar), na Colômbia (1º) e na Argentina (2º). O ranking se manteve basicamente inalterado nas primeiras posições e a permanência dessas empresas na preferência dos jovens pode ser compreendida por seu fortalecimento no mercado e também por suas ações de marketing.

As grandes novidades da edição de 2011 ficaram mesmo por conta do ingresso da Odebrecht, na nona posição, e a saída da Microsoft, que ocupava o oitavo posto no ano anterior. Já há alguns anos a Odebrecht está bem próxima das “top 10”, mas foram os votos dos jovens do Nordeste –região de origem da empresa e com crescimento expressivo no número de matrículas em universidades– que decidiram esse desempenho.

 

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By | 2017-05-24T14:13:46-03:00 07 agosto, 2011|Categories: Pesquisas|Tags: , |0 Comments

About the Author:

Mestre em Economia, especialização em gestão financeira e controladoria, além de MBA em Marketing. Experiência focada em gestão de inteligência competitiva, trade marketing e risco de crédito. Focado no desenvolvimento de estudos de cenários para a tomada de decisão em nível estratégico. Vivência internacional e fluência em inglês e espanhol. Autor do livro: Por Que Me Endivido? - Dicas para entender o endividamento e sair dele.

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