O comercial anuncia um produto milagroso, capaz de deixá-lo magro, jovem e atraente sem nenhum esforço. É uma fórmula secreta, fabricada segundo uma misteriosa e avançada tecnologia importada. Homens e mulheres aparentemente bem-sucedidos garantem na TV que ele funciona. Quanto você pagaria por isso? Não responda ainda. Comprando agora, você provavelmente vai ganhar um engodo de presente. Todo mundo sabe que a publicidade é poderosíssima para quem vende. E, por si só, não é algo ruim para quem compra também. Ela nos apresenta alternativas para coisas de que necessitamos e traz novidades em produtos que queremos. O problema começa quando perdemos o senso crítico. Convencer-se de que precisa de um revolucionário sistema de organização de armários vá lá, mas comprar um chapéu que previne a calvície é engolir um discurso sem pensar. Nas páginas seguintes, vamos desvendar um pouco desse universo. Para decifrar o que está por trás das armadilhas publicitárias, conversamos com pesquisadores que tentam entender como e por que nos deixamos levar pelos anunciantes. Para ver até onde chegam as promessas malucas das propagandas, convidamos o repórter Fernando Muylaert para testar algumas delas. Seus depoimentos, acompanhados de pareceres de especialistas, mostram por que é preciso refletir antes de dizer sim a uma oferta.
Antes de ficarmos chateados por respondermos de maneira tão emocional aos comerciais, é preciso saber que os anúncios são elaborados exatamente para provocar esse tipo de resposta. Não se trata de falta de inteligência, mas de atenção. “Não há argumentação racional nos anúncios”, diz Ari Fernando Maia, professor de psicologia da Universidade Estadual Paulista. “Somente a vinculação do produto a situações emocionalmente positivas ou a estímulos desejáveis.”
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SISTEMA AMAZON
O que é: kit antitabaco
O que promete: fim do tabagismo sem aumento de peso
Avaliação de Galileu: “O spray é para ser usado quando você sente vontade de fumar. Achei o gosto bom, mas como não fumo, dei para uma amiga que estava tentando parar. Ela confessou que em momentos de estresse intenso ela acabou fumando, mas na maior parte do tempo o produto ajudou. Dos cinco cigarros por dia que ela fumava, foi para apenas dois na semana. Afirma que o produto ajuda, mas o mais importante é a força de vontade”.
Opinião do especialista: “O produto não traz informações suficientes sobre o mecanismo de ação. Não há descrição na literatura científica de que essas ervas possuam eficácia no alívio dos sintomas de abstinência e do desejo de fumar. Também não está claro se os alcalóides citados são semelhantes ao da nicotina, o que configuraria uma terapia de reposição. Também não está esclarecida a correlação dessas substâncias com a diminuição do apetite. Mesmo que na prática possa haver benefícios em alguns casos, isso seria considerado “relatos de caso” – em termos científicos, não há evidência suficiente de eficácia. O hábito de fumar está ligado à dependência química e também a padrões psicológicos. Muitos fumantes possuem doenças de fundo que favorecem a manutenção do vício, como ansiedade e depressão. Todos esses fatores devem ser considerados no tratamento”. – Francisco Rocha, psiquiatra do programa de orientação e atendimento a dependentes da Escola Paulista de Medicina
Desejos secretos
Em outras palavras, nenhum anunciante vai propor uma mesa-redonda para convencê-lo de que seu produto é bom, e, sim, contratar uma agência especializada em descobrir o que você quer. “As necessidades que as pessoas têm não são desejos de produtos, mas sim de sentimentos”, explica Edilson Marques da Silva, professor de técnicas de publicidade e propaganda da Unesp. “Desejos de segurança, de afeto, de status, de filiação a um grupo, de sexo, de liberdade, de justiça. O próximo passo é apresentar um produto, um serviço ou uma marca como uma resposta viável a esses anseios.” É por isso que os comerciais de cerveja, na sua maioria, prometem integração social, e muitas marcas de carro fazem propaganda de reencontro com a natureza.
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HAIR NO MORE
O que é: creme depilador
O que promete: tirar pêlos, pela raiz, sem dor
Avaliação de Galileu: “Era a primeira vez que eu iria me depilar e achei curioso um método sem dor. Na primeira aplicação deixei pelo tempo indicado e não aconteceu nada. No dia seguinte aumentei o tempo e a maior parte dos pêlos do meu peito caiu após 4 minutos. O único incômodo foi o cheiro forte, meio químico, meio de queimado. Imagino que quem aplicar o produto no corpo inteiro vai ter problemas com o odor. No dia seguinte os pêlos já voltaram a crescer, pois não é uma depilação e sim como se fosse uma raspagem, não tira os pêlos pela raiz”.
Opinião do especialista: “O creme, rico em sódio, é bastante cáustico e derrete os pêlos. É um produto bom, mas sua ação não tem nada de diferente dos outros cremes depilatórios. A vantagem são os componentes suavizantes adicionados à fórmula, como aloe vera, glicerina e extratos de plantas. Eles têm efeitos cicatrizantes, calmantes e lubrificantes que protegem de irritação. O creme remove a secreção sebácea natural da pele, por isso é preciso caprichar no hidratante depois do uso. Mas, a não ser que a pessoa seja supersensível, não oferece nenhum risco. O único pecado do creme, na verdade, é a propaganda enganosa. Ao contrário do que dizem os anunciantes, ele não enfraquece o pêlo nem tira os pêlos pela raiz. Seu resultado é como o de uma boa lâmina. Os pêlos são seccionados na mesma altura e voltam da mesma maneira” – Ligia Kogos, dermatologista
Na corrida por um espaço na memória do consumidor, vale tudo. As armas são muitas. Você provavelmente se lembra de algum anúncio que usava números para impressioná-lo (por exemplo, uma marca de cartão de crédito cita a quantidade de associados, para mostrar que você está “de fora”) ou testemunhos importantes (um atleta famoso recomenda determinado emagrecedor). Alguns apelos chegam a ser cômicos, lembra Maia. “Atualmente, lâminas de barbear têm em sua embalagem a palavra ‘turbo’. Ora, será que há uma turbina na lâmina? Batatas em saquinhos são vendidas com o disparate ‘sabor churrasco’. A produtos de beleza são juntados adjetivos como ‘refrescância’ e ‘brilho’ e um outdoor anunciava um produto alimentício como ‘a mais nova tradição’… Não há limites para o nonsense.”
Vender, vender, vender
Momentos decisivos na história da propaganda
3.000 a.C.: Babilônios introduzem as primeiras formas de publicidade – placas de lojas e anunciantes de rua. Também criam o patrocínio, permitindo que reis gravem seus nomes nos templos que constroem
1525: Primeiros anúncios públicos aparecem em um panfleto alemão. A mídia impressa cresce pelos três séculos seguintes
1700: Carteiros se tornam os primeiros agentes publicitários nas colônias americanas, aceitando e distribuindo anúncios para publicação em cidades distantes
1830s: Vendedores de remédios combinam comércio com testemunhos e entretenimento. Produtos patenteados são pintados com slogans nas carroças desses viajantes
1841: O barateamento na produção de papel cria um “boom” de jornais nos EUA. Incapazes de acompanhar tantas publicações, fabricantes contratam agentes de propaganda
1875: Surge a N.W. Ayer & Son, primeira agência publicitária completa, que planeja, cria, produz e veicula anúncios. Comissões são padronizadas em 15%
1900-1920s: Atuando como “parceiros de vendas”, as agências assumem controle quase total dos negócios de seus clientes, envolvendo-se inclusive no desenvolvimento de produtos, cálculo de preço e embalagem. Muitas vezes são pagos com ações das próprias empresas
1949: A televisão surge como mais um meio de veiculação
1980s: Os PCs revolucionam o mundo dos negócios. Os bancos de dados têm alto impacto no trabalho dos departamentos de pesquisa das agências de publicidade
1994: Empresas começam a ver a internet como meio de propaganda. Especialistas não-tradicionais são valorizados na hora de planejar campanhas para a nova mídia
Ter é poder
Com tantos atrativos, fica mesmo difícil escapar. Segundo os dados mais recentes da Unesco, há hoje no mundo cerca de 208 aparelhos de televisão para cada 1.000 habitantes, perfazendo um total aproximado de 1,4 bilhão de aparelhos receptores. Se imaginarmos que cada aparelho tem um potencial de atingir três indivíduos, isso significa que pelo menos 83% da população mundial está sujeita à publicidade difundida por este meio. Mas engana-se quem acha que é só por isso que gastamos tanto.
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PULSEIRA SABONA
O que é: pulseira de cobre
O que promete: prevenir estresse e aliviar dores
Avaliação de Galileu: “Na sexta-feira pela manhã comecei o teste. Achei a pulseira incômoda. Além de tudo é feia, parece até aqueles braceletes que o Ibama coloca nos bichos! No fim da tarde encarei um típico engarrafamento e me mantive surtado como de hábito no trânsito de São Paulo. No segundo dia de uso, com a pulseira em punho, briguei com a minha irmã. O produto não aparentou ter efeito nenhum. Continuei o uso pelo resto da semana e não foi possível constatar que eu estive mais calmo nesses dias”.
Opinião do especialista: “As pulseiras de cobre têm sido alvo de algumas pesquisas científicas, principalmente em relação à artrite. Não encontrei nenhum estudo com relação ao estresse. Há a possibilidade, sim, de haver absorção de cobre pela pele e o metal é fundamental para muitas reações celulares, mas nenhum trabalho mediu a quantidade de cobre absorvida no sangue pelo uso da pulseira. A alegação de que se forma um campo magnético entre as duas pontas da pulseira é improvável, já que, para criar um campo elétrico ou magnético, ou temos que magnetizar o metal, ou utilizar metais diferentes. Os próprios estudos que registram seu efeito positivo sobre a artrite consideram essa pulseira como placebo”. – Paulo Luiz Farber, presidente da Associação Brasileira de Medicina Complementar
“A publicidade não forçou o surgimento de uma sociedade de consumo, mas o contrário”, afirma Anderson Moebus Retondar, professor de sociologia da Universidade Federal de Juiz de Fora. “O movimento tem origem na Europa do século 18, quando o sentimento de competição social começa a ser difundido para as classes médias burguesas. Pequenos proprietários rurais, comerciantes e artesãos começam então a aumentar sua renda e a mudar sua relação com o processo de aquisição dos bens.” A propaganda só passa a fazer sentido, diz Retondar, à medida que a produção de mercadorias se expande e o consumidor precisa ser convencido a adquirir algo de que inicialmente não precisa.
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AB TONER
O que é: aparelho de ginástica passiva
O que promete: fortalece, tonifica e melhora o condicionamento físico
Avaliação de Galileu: “De imediato o produto apresentou um desconforto enorme. No início eu não queria fazer mais, pois temi ter um enfarte de tanto ficar tomando choques seguidos. O choque era muito incômodo, mas aos poucos o corpo vai se acostumando e ele aparentemente deixa os músculos mais rígidos. Eu odeio academias, mas prefiro a ficar tomando choque na poltrona. No braço eu não consegui usar, pois meu braço é bem mais fino que o dos homens da propaganda”.
Opinião do especialista: “O cinto pode ser visto como complemento de um programa de exercícios, já que tonifica um pouco a musculatura, mas nunca como substituição. O aparelho não cumpre a maior parte das promessas. É impossível perder peso ou medidas com a eletroestimulação, porque o gasto calórico não se altera. As alterações bioquímicas são semelhantes às causadas pelos exercícios abdominais, mas em um ritmo bem diferente do anunciado – o manual informa que 10 minutos de uso são equivalentes a 600 abdominais, mas na verdade correspondem a apenas 200. É um efeito muito discreto, que não é capaz de formar uma ‘barriga de tanquinho’. Para isso, só com muito exercício e o uso de carga. Felizmente não afeta a pressão arterial e a freqüência cardíaca, por isso adultos saudáveis estão livres de riscos.” – Gerseli Angeli, fisioterapeuta do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte da Unifesp
A sociedade de consumo se consolida na virada do século 19 para o 20, motivada pela questão da “distinção social”. O consumo dos objetos passa a ser algo que gera prestígio e aumenta o status. Isso fica claro no crescimento das indústrias de imitação no século 19. Versões baratas (como a cerâmica inglesa) de mercadorias do universo de consumo dos ricos (como a cerâmica oriental) passam a ser consumidas pelas classes médias em uma tentativa de se aproximar das elites. O impulso atinge toda a sociedade. “O crescimento das lojas de produtos de 1,99 no Brasil é um sinal disso”, aponta Retondar.
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CELEBRITY JUICE FAST
O que é: suplemento alimentar
O que promete: perda de até 4 kg em 48 h
Avaliação de Galileu: “Meus amigos fizeram campanha para eu desistir. Afinal, tenho 1,93 m de altura e peso 75 kg. Mas quis encarar e comecei a dieta pela manhã. O suplemento não é nada soboroso: parece um suco concentrado com gosto de remédio. Já quando dei o primeiro gole o corpo ameaçou mandar de volta. Após uma hora da primeira dose, meu intestino soltou. Fui duas vezes ao banheiro. Almocei só o suco e fui trabalhar. Trabalhei com fome e, de lanche, suco de novo. No fim do dia estava com muita tontura. Após 24 horas abandonei a dieta, pois estava me sentindo mal. Perdi 500 gramas e recuperei tudo no dia seguinte”.
Opinião do especialista: “Uma pessoa de 70 kg, para perder 4 kg, precisa economizar 28.000 kcal. Dentro do prazo prometido, teria que não ingerir nenhuma caloria e ainda por cima queimar outras 12.000 por dia. É absolutamente impossível. Apesar da restrição severa, a redução de peso não é vantajosa. A maior parte da perda são líquidos e gases. A fórmula, em si, não traz prejuízo à saúde, mas não tem nenhum componente emagrecedor. O método também não contribui para resultados de longo prazo. Depois das 48 h, a pessoa volta a comer como antes. Só vale se for usado para bloquear o platô de alguém que já está seguindo um programa de emagrecimento, mas o mesmo efeito pode ser obtido com sopas caseiras.” – Amélio de Godoy Matos, endocrinologista
Novos valores
No contexto atual, no entanto, o consumismo assumiu dimensões maiores. Hoje, ele interfere diretamente na esfera privada. “A própria idéia de felicidade se encontra atrelada à capacidade de consumo”, diz o sociólogo. “A angústia gerada por esta incapacidade é um forte indicativo de como o consumo se tornou, muito mais do que uma atividade econômica indispensável, um valor fundamental para as pessoas.”
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FACAS SHARPENHAUSEN
O que é: jogo de facas
O que promete: picar e fatiar com rapidez sem nunca perder o fio nem o brilho
Avaliação de Galileu: “Enviei as facas para um restaurante, onde fariam um uso mais intenso, já que eu estava de dieta à base de Celebrity Juice. O produto se saiu muito bem. Após uma semana de uso, as facas não perderam o fio e o machadinho realmente cortou osso e partes duras com muita facilidade. O único lado negativo apresentado foi o peso. O chef achou as facas pesadas e para um uso mais intenso isso pode incomodar”.
Opinião do especialista: “O produto pode perder menos o fio, mas não existe aço que não se danifique. Todo metal passa por um processo de corrosão, até mesmo o ouro, que é um metal nobre. A camada de oxidação desses materiais se forma assim que eles entram em contato com o ar. Dizer que o aço é alemão não garante nada. O mais importante não é a procedência, mas a composição, e o fabricante não disponibiliza essa informação, como também não informa que tratamento é dado às lâminas para manter o brilho para sempre”. – Ivani de Souza Bott, professora de ciência dos materiais e metalurgia da PUC-Rio
O problema do consumismo, explica Ari Maia, é que ele implica uma relação irracional do sujeito com o mundo; a satisfação prometida pelos produtos que ele consome não pode ser atingida, porque a promessa é vã. “Quando começa uma novela, a propaganda promete ‘romance’, ‘aventura’ etc. No entanto, uma novela pode oferecer romance a alguém na mesma medida que a leitura de uma receita culinária pode matar a fome.”
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DERMOTENSOR INTIMIDADE
O que é: creme antiidade
O que promete: tira rugas, linhas de expressão e olheiras em 5 min, além de combater o envelhecimento
Avaliação de Galileu: “Como não tenho rugas, encaminhei o produto para uma voluntária. O que ela achou foi… nada. O gel não tem cheiro e é absorvido rápido, mas nada acontece. Não repuxa, não estica, não esquenta, não esfria. A pele não saiu do lugar”.
Opinião do especialista: “Não há possibilidade alguma de que um simples cosmético consiga preencher as rugas. Mesmo a toxina botulínica (Botox) precisa de 48 a 72 horas para fazer com que os músculos faciais sejam bloqueados. Lugares mais marcados, principalmente, precisam de peelings profundos e a eliminação das rugas leva algumas semanas. Os componentes da fórmula não levam a crer que o produto possa favorecer o processo nem promover um esticamento provisório da pele. No máximo, é um hidratante. Quanto a combater o envelhecimento, a hidratação ajuda, mas o uso singular do creme não basta. É preciso usar filtro solar diariamente e ter acompanhamento médico”. – Roberto Rodolfo Jr., diretor da Sociedade Brasileira de Medicina Estética
Podemos continuar comprando essas promessas, mas podemos também aprender a interagir com elas. “É possível fazer uma leitura crítica da propaganda”, afirma o comunicólogo Edilson Silva. “Se fizéssemos a nós mesmos algumas perguntinhas simples, certamente teríamos um consumo mais consciente: o que estou comprando? Por que estou comprando? Qual é a minha real necessidade? Qual é a promessa do produto? Qual é a garantia de que ela será cumprida?”
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INVISIBLE BRA
O que é: sutiã de silicone sem alças
O que promete: aumentar até dois números do manequim; sustentar, aproximar e levantar os seios sem marcar sob a roupa
Avaliação de Galileu: “Impossibilitado de testar, pedi ajuda a uma bela amiga. Realmente o produto deu uma avantajada nos seios dela, aumentando o tamanho. Ficou divino (espero que minha namorada não leia esse trecho). Fiquei bem contente com o que vi e a modelo elogiou o produto, achando confortável e firme. Ela só reclamou na hora de retirar o produto, pois a cola que gruda o sutiã nos seios é complicada para sair. Como os seios da moça já eram siliconados, não podemos afirmar se o produto levanta ou não os seios”.
Opinião do especialista: “O material impermeável retém o suor, que tem ácido clorídrico, no corpo. Quando seco, pode provocar coceiras. Algumas mulheres podem apresentar também alergia ao adesivo, mas esses seriam mesmo os problemas mais graves. O uso do produto não pode provocar câncer de mama, por exemplo, nem mascarar qualquer doença. Mas é bom saber que esse é um sutiã de uso esporádico, um recurso para ocasiões especiais. Não deve ser um substituto da peça habitual, principalmente porque não sustenta mamas grandes. Para o dia-a-dia, não recomendo. O ideal é que a mulher use sutiã sem aro, que dê firmeza sem apertar, cubra boa parte do seio e seja feito de tecido não sintético, para deixar a pele respirar”. – Maurício Magalhães Costa, ginecologista, autor de “Saúde e Beleza dos Seios”
Olhar afiado
O fato de sermos bombardeados diariamente por propagandas também pode ser usado a nosso favor. Acabamos ficando mais seletivos. “Isso fica claro em relação à propaganda política”, diz Anderson Retondar. “Se realmente a publicidade tivesse todo este poder de manipulação social, os grupos que estão no poder se perpetuariam nele e, de fato, não é o que acontece. Ao mesmo tempo, dificilmente um candidato conseguiria se tornar presidente da república sem um forte aparato publicitário. Em todos os campos, a publicidade é muito mais um instrumento do que propriamente o agente que dita as regras do jogo.” Quem decide pegar ou largar é você.
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JARRA MAGNÉTICA PLUS
O que é: jarra plástica com ímãs
O que promete: magnetizar bebidas para serem auxiliares no tratamento de várias doenças
Avaliação de Galileu: “Durante uma semana eu bebi água na jarra energética. O gosto não apresentou mudança, nem o meu comportamento. Cheguei até a regar minhas plantas com a água da jarra e também não observei nenhuma alteração”.
Opinião do especialista: “O efeito do campo magnético sobre a matéria é intenso em poucos casos, como por exemplo em substâncias ferromagnéticas. A força de um ímã atuando sobre a água é bilhões de vezes mais fraca. De um modo geral, mesmo com o emprego de eletroímãs extremamente potentes, a interação do campo magnético com a matéria deve ser observada com aparelhos bastante sensíveis. Além disso, a magnetização no líquido é temporária – quando se afasta o campo, rapidamente a substância se desmagnetiza. Então é impróprio dizer que a água se tornou imantada, pois no momento em que se transfere a água para o copo perde-se toda a magnetização. Não há teoria que eu conheça que possa embasar a ação do produto. Uma coisa é a ação do magnetismo sobre os seres vivos, em que há casos comprovados. Outra, bem diferente, é considerar que o magnetismo atua sobre a água, e esta água ‘modificada’ atua nos organismos. A jarra serve mais para incentivar o consumidor a ingerir mais líquidos, o que é comprovadamente saudável, do que para alterar as suas propriedades”. – Flávio M. Matsumoto, professor de química da UFPR
Não dá pra dizer ao certo que efeitos a imagem subliminar tem sobre as decisões (leia mais no quadro “O que você não vê”). Mas outros tipos de mecanismos publicitários têm papéis conhecidos. É o caso da sugestão. “Tudo funciona por associação”, diz a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, professora e pesquisadora da UFRJ. “Um jogo de palavras que ative uma determinada reação do cérebro irá influenciar nossas respostas.”
O processamento da linguagem também tem uma função importantíssima. Campanhas em que o consumidor só precisa mandar uma carta com a resposta a uma pergunta são um bom exemplo disso. Repare que essas promoções não testam conhecimento nenhum, em geral só perguntam o nome do fabricante. “Produzir o nome é diferente de apenas ouvi-lo”, explica Suzana. “A mensagem percorre um caminho diferente no cérebro e a marca fica registrada.”
Mas o mais importante dos recursos talvez seja a imitação. Relacionado ao aprendizado, ele é um processo fundamental do cérebro. Ver alguém fazendo alguma coisa nos instiga prontamente a imitar. Imagine só quando a pessoa em questão parece estar tendo uma satisfação imensa. “Só a antecipação do prazer já serve de impulso, nos faz querer ir atrás. É como se imaginássemos: ‘Se eu fizer como ele também vou ser recompensado’ “. A recompensa – esse gostinho bom do depois – acontece no sistema límbico, o nosso “cérebro emocional”.
E não se engane – mesmo aquelas decisões que parecem puramente racionais (por exemplo, quando reagimos a um comercial de supermercado só porque ele é, de fato, mais barato) são emocionais. As decisões financeiras que têm melhores resultados envolvem pensamento emocional. Os publicitários já sabem disso faz tempo.
O sistema límbico
Também conhecido como ‘antigo cérebro mamífero’, esse sistema se relaciona principalmente com a emoção e com a memória, duas áreas que normalmente trabalham juntas
Septo: Contém os centros do prazer, em particular os sexuais
Fornix: Conecta o hipotálamo ao cerebelo
Tálamo: Importante local de agrupamento para as informações sensoriais, antes de serem distribuídas para as regiões superiores
Hipocampo: Envolvido principalmente com a memória
Amígdala: Controla as emoções e ativa as reações de autopreservação – lutar ou correr
Propaganda subliminar não existe, dizem os publicitários. Será mesmo?
A TV está cheia de anúncios com mensagens escondidas nos levando a consumir, certo? Na verdade, não é bem assim. O estímulo subliminar (que não é percebido de maneira consciente) pode acontecer de diversas maneiras – porque foi captado em estado de excitação, por exemplo, ou porque há informações demais em jogo, mas o tipo mais clássico, aquele truquezinho escondido na tela, sequer foi comprovado pela ciência.
É a existência dessa ferramenta que estuda há 20 anos Flávio Calazans, professor de comunicação e mercado da Faculdade Cásper Líbero. Sua pesquisa, que deu origem ao livro “Propaganda Subliminar Multimídia”, tenta justamente provar que elas não passam de lenda urbana.
Mas, bem, há leis. Os EUA proíbem o uso de subliminares porque as consideram contrárias aos interesses do público. A Europa também veta o uso da técnica. “Tudo isso é muito suspeito”, diz Calazans. “Por que se escrevem leis sobre uma tecnologia que não existe? O que justificaria se dar ao trabalho de proibir algo que nunca existiu nem faz nenhum efeito?”
De fato, há dois casos que Calazans não conseguiu provar que não se tratam de subliminares. Um deles é de 2000, quando uma propaganda do então candidato à presidência George Bush teria usado a palavra “ratos” escondida durante um ataque ao concorrente Al Gore. A outra está em um filme infantil. Aos 28 minutos de “Bernardo e Bianca”, foram encontrados dois fotogramas de nudez. A Disney admitiu. (Veja mais em www.calazans.ppg.br).
Fonte: Revista Galileu
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