Michel Alcoforado, antropólogo, analisou em painel no BR Week a reação dos millennials à crise econômica. Entenda como isso afetará o varejo a longo prazo.
Que a crise econômica atinge o varejo, isso é bastante óbvio e todos já estão sentindo na pele. Há quem diga que é a pior crise de todos os tempos, mas há quem acredite que ela é só uma crise diferente. De fato, ela é. E Michel Alcoforado, antropólogo e sócio-fundador da Consumoteca, explicou como na palestra “A primeira crise a gente nunca esquece”, durante o BR Week.
A Consumoteca realizou uma pesquisa com os Millennials, nascidos no final dos anos 1980, ou durante os anos 1990. “Esse consumidor usa lentes diferentes da nossa. E as regras para agradá-lo não são mais as mesmas. Não basta mais mudar a fachada do PDV, pintar as paredes ou coisas assim. Fórmulas prontas não dão mais conta”, comenta o especialista.
Em primeiro lugar, porque é uma geração que viveu um boom tecnológico. Em segundo lugar, porque viveram um momento de crescimento econômico absurdo, em que a renda cresceu como nunca e vivemos uma redefinição da pirâmide, com boa parte formando as camadas médias, com menos desigualdade e mais poder de compra.
No entanto, a situação de hoje, comparada com dois anos atrás, é completamente diferente. Há queda de profissionais com carteira assinada, aumento dos autônomos e desempregados. “Os millennais começaram a achar que podiam tudo. O RH tinha o grande desafio de reter talentos. Isso já mudou, porque acabou a bonança. A economia virou do avesso e essa geração que acreditou que não precisava ter chefe, que ia ser diretor aos 30 anos, que a vida tinha que ser só prazer, precisa se reinventar”, explica.
Além disso, Alcoforado alerta para o tanto que essa crise é machista. Entre homens e mulheres, elas viram opção, por vários motivos. “Há um movimento de voltar a ser do lar. Mandam as mulheres, porque elas podem engravidar, ou o filho fica doente, o marido ganha bem. A gente vê o machismo impactando fortemente a vida dessas mulheres, mesmo em tempos de campanhas feministas”, completa. E lembra que, por outro lado, são elas que decidem as compras, que resolvem onde poupar e economizar.
A partir da análise da pesquisa, descobriu-se que os millennials não estão mais motivados. “A motivação vem de pensar em um plano de futuro e organizar a vida a partir de uma meta. Estamos vendo jovens com a meta curta. Jovens que estudaram e não conseguem emprego nem como estagiários. O concurso público volta a ser meta. Isso é preocupante, porque tem-se uma economia dinâmica pelo empreendendorismo, não por emprego público”, alerta.
A pesquisa revelou que os millennials não são todos iguais. Alcoforado apresentou alguns perfis deles.
- O apreensivo – tem cerca de 30, 35 anos, é das classes C, B. Tem emprego, mas vive com medo de ser demitido. Isso empaca o consumo, há uma preocupação com dívidas pesadas, como compra de apartamento ou carro, ou ainda a escola dos filhos. Ele fica mais econômico, volta a ir ao supermercado com calculadora e a repensar suas compras.
- A Ferrada da crise – A menina das classes A, B e C, entre 25 a 35 anos, que perde o emprego por causa da crise machista e é obrigada a repensar carreira.
- O Desapontado – tem entre 18 e 24 anos e acabou de sair da universidade, em todas as classes sociais. Cresceu acreditando que a educação iria salvar vidas. E agora ele está se dando conta de que não, então se sente enganado.
- O arrojado – Esse cara interessa à economia, porque, com idade entre 25 e 35 anos. Aposta no agora ou nunca, quer realizar o sonho e mudar de vida. Por isso, vai empreender, buscar uma carreira diferente.
- O sem oportunidades – Da classe C, subiu na vida, teve um bom emprego, cresceu o volume de consumo, mas agora está todo endividado e sem dinheiro para comprar. Como é pouco escolarizado, tem dificuldade de achar emprego com um bom salário.
- O Tranquilo – Tem entre 25 a 29 anos e está empregado, mas vive se matando. Dessa forma, não tem tempo para consumir, acaba ficando mais em casa.
- O Despreparado – O famoso “nem nem”, são preocupantes, porque não trabalham e nem estudam. E muito menos imaginam nada para suas vidas.
“A pergunta que fica é: qual lente seu consumidor está usando na hora que ele entra em contato com sua marca, no seu PDV? É isso que vai redefinir seu negócio”, conclui Alcoforado.
Por: Portal No Varejo
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