Para 71% da população, a pandemia de coronavírus teve um impacto muito grande na economia brasileira e, para 63% dos brasileiros, a crise atual é muito mais forte que a ocorrida entre 2014 e 2016. Quatro em cada dez brasileiros perceberam queda de sua renda durante o período mais crítico da pandemia, entre abril e junho e 43% afirmaram que sua renda no momento da pesquisa ainda era menor que antes da pandemia.
Um terço da população (34%) acreditava que a recuperação da economia já havia começado em setembro. Contudo, dois terços dos brasileiros (67%) acreditam que o tempo de recuperação da economia será superior a um ano.
Foram muitos os efeitos da pandemia sobre os hábitos de consumo. O consumo de uma série de produtos, como produtos de limpeza e de higiene pessoal aumentou durante a pandemia. Já outros, roupas, bolsas, acessórios e calçados, móveis e artigos de decoração e artigos esportivos tiveram queda em seu consumo.
Esses efeitos sobre os hábitos de consumo – ou seja, sobre a cesta de produtos e serviços consumidos pela população – tendem a ser duradouros. Existe a intenção de, no próximo ano, consumir mais alimentos no supermercado e manter o consumo de produtos de limpeza e de higiene pessoal mais elevados. A população também mostra disposição em manter seu consumo mais reduzido em 2021 para parte dos serviços.
Além dos efeitos sobre a cesta de produtos e serviços, a pandemia também afetou a relação entre consumo e poupança da população brasileira. Quase um terço da população (32%) afirmou que conseguiu guardar mais dinheiro ou gastar menos do que antes da pandemia. E 59% pretende poupar mais em 2021 do que poupava antes da pandemia.
Impactos da pandemia e recuperação
Impacto da pandemia na economia brasileira foi muito grande para sete em cada dez brasileiros
Para 71% da população, a pandemia teve um impacto muito grande na economia brasileira, enquanto outros 23% afirmaram que o impacto foi grande.
O percentual da população que afirmou que o impacto na economia foi muito grande aumenta de acordo com o grau de instrução dos respondentes, passando de 63% entre os brasileiros com até a 4ª série do ensino fundamental, alcançando 78% quando considerados aqueles com educação superior.
Também há diferença mais significativa quando se compara a população residente nas capitais (76% acreditam que o impacto foi muito grande) aos que residem no interior (69%).
Crise da pandemia foi mais forte que a de 2014 a 2016 para 63% dos brasileiros
Ao se comparar a crise causada pela pandemia de coronavírus com a vivida pelo país entre 2014 e 2016, 63% dos entrevistados acreditam que a crise atual foi muito mais forte e outros 15%, mais forte. No total, 10% afirmaram que a crise atual foi mais fraca.
Destaca-se que no Nordeste, o percentual da população que acredita que a crise atual é muito mais forte salta para 71%. A percepção de crise atual muito mais forte também é maior para a parcela da população com menor renda (de 2 salários mínimos ou menos), alcançando 67%. Para a população de renda superior a dois salários mínimos, o percentual recua para 59%.
Maioria da população acredita em tempo de recuperação superior a um ano
Para 63% dos entrevistados, a recuperação não havia começado até o final de setembro, enquanto para 34% a economia brasileira já estava em recuperação.
A percepção era mais negativa entre os de faixa etárias mais jovens: 73% da população entre 16 e 24 anos acreditam que a recuperação não havia começado, ante 54% daqueles com 55 anos ou mais.
Já entre as diferentes faixas de renda, a percepção que a economia não havia iniciado recuperação é maior entre as faixas de renda mais baixas, alcançando 67% entre as famílias que recebem até um salário mínimo e recuando para 59% entre aqueles com renda superior a cinco salários.
O tempo de recuperação da economia brasileira será superior a um ano para a maioria da população, 67%. Enquanto um terço da população (33%) acredita que a economia brasileira irá se recuperar entre um e dois anos, 34% acreditam em tempo superior a dois anos.
Quanto maior o grau de instrução dos brasileiros, maior o tempo esperado até a recuperação. Entre os brasileiros com até a 4ª série do ensino fundamental, 53% acreditam que a economia brasileira irá se recuperar em mais de um ano, percentual que aumenta quanto maior o grau de instrução e chega a 78% entre os com educação superior, sendo que para esta faixa de instrução, 35% acreditam em tempo de um a dois anos e 43% em tempo superior a dois anos.
Efeito na renda
Renda caiu para 41% da população no período mais crítico da pandemia
Para um quarto da população, sua renda individual diminuiu muito durante o período mais crítico da pandemia, entre abril e junho deste ano. Para 16%, a percepção é que a renda diminuiu um pouco. No total, 41% percebeu redução em sua renda.
Já 14% da população tem a percepção contrária, de aumento de sua renda individual no mesmo período. Mais da metade destes (52%) recebeu o auxílio emergencial do governo.
A percepção de queda significativa na renda (respostas “diminuiu muito”) é decrescente de acordo com a renda familiar do entrevistado. Para a população com renda familiar inferior a um salário mínimo, 31% afirmaram que sua renda diminuiu muito no período mais crítico da pandemia. O percentual se reduz para 18% no caso de indivíduos de renda familiar superior a cinco salários mínimos.
Usos do auxílio emergencial
Metade da população que recebeu o auxílio emergencial do governo comprou bens de consumo com o dinheiro recebido
Dos entrevistados, 42% se cadastraram e conseguiram receber o dinheiro recebido através do auxílio emergencial do Governo Federal, enquanto 11% fizeram o cadastro, mas não receberam o auxílio. Outros 17% afirmaram que não se cadastraram porque não precisavam do auxílio e 30% porque não se encaixavam nas condições exigidas.
Das pessoas que receberam o auxílio emergencial, 17% afirmaram que sua renda aumentou ou aumentou muito no período.
O percentual que se cadastrou e recebeu o auxílio é maior entre as mulheres (46%, ante 38% dos homens), é especialmente elevado entre aqueles que cursaram da 5ª a 8ª série do fundamental (53%) e, como esperado, decrescente de acordo com a renda familiar (recuando de 53%, entre aqueles com renda familiar inferior a um salário mínimo, para 19%, entre os de renda familiar superior a cinco salários).
Em termos de região geográfica, no Nordeste se registra o maior percentual da população que afirmou ter feito o cadastro e recebido o auxílio (49% das respostas), percentual que recua para 30% na região Sul. Na região Sul, o percentual que afirmou que não efetuou o cadastro porque não se encaixava nas condições exigidas é de 41%.
O uso mais frequente do dinheiro recebido através do auxílio emergencial do Governo Federal foi comprar alimentos, roupas, produtos de higiene, limpeza ou algum outro tipo de bem de consumo, assinalado por praticamente metade dos entrevistados (49%). Outros 30% afirmaram que o principal uso foi o de pagar contas, como de água, energia elétrica ou gás. Já 18% afirmaram que usaram o dinheiro para pagar dívidas. Apenas 2% guardaram o dinheiro do auxílio.
Hábitos de consumo durante e após a pandemia
Produtos
Hábitos de consumo se alteraram durante a pandemia
Durante a pandemia, o padrão de consumo da população se alterou. Uma série de produtos teve o seu consumo ampliado, outros, reduzido.
Mais da metade dos brasileiros aumentou o consumo de produtos de limpeza (55% dos entrevistados) e de produto de higiene pessoal (51%). Metade aumentou o consumo de alimentos no supermercado. No outro extremo, 48% da população afirmou que reduziu o consumo de roupas, bolsas, acessórios e calçados, 46% reduziu o consumo de móveis e artigos de decoração e 45% reduziu o consumo de artigos esportivos. O gráfico a seguir apresenta os percentuais para uma relação de quinze opções de produto pesquisadas.
Efeitos nos hábitos de consumo de produtos podem ser duradouros
Algumas das mudanças no consumo de bens podem se estender para 2021 e além da pandemia. Os três produtos com os maiores percentuais da população afirmando que houve alta do consumo são também os três produtos com os maiores percentuais da população com intenção de aumentar o consumo no próximo ano.
Quase um terço (32%) dos entrevistados pretendem continuar a comprar mais alimentos no supermercado, 30% pretendem manter o consumo de produtos de limpeza mais elevado e 29%, o consumo de produtos de higiene pessoal.
Destaca-se que roupas, bolsas, acessórios e calçados, produtos para os quais maior parte da população apontou que reduziu o consumo durante a pandemia, é o quarto no ranking de maior intenção de consumo no próximo ano (25% da população).
Serviços
Queda do consumo da maioria dos serviços durante a pandemia para parte significativa da população
De todos os serviços considerados, apenas um grupo – assinaturas online de música, jogos, séries e filmes – teve seu consumo aumentado durante a pandemia. É o único serviço pesquisado no qual a parcela da população que aumentou o consumo (39%) supera o que reduziu (19%).
Os demais serviços mostram maiores percentuais de queda. Em dois, ao menos metade dos entrevistados afirmou que reduziu seu consumo: Refeições em restaurantes para consumir no local (54%) e Ingresso para show/cinema/evento esportivo (50%).
Parte da população pretende manter consumo de serviços reduzido em 2021
Para parte dos serviços, a população mostra disposição em manter seu consumo mais reduzido em 2021. Para a maior parte dos serviços considerados, a parcela da população que pretende consumir em 2021 menos do que consumia antes da pandemia supera a parcela que pretende consumir mais.
Em quatro dos dez serviços pesquisados ao menos um terço da população pretende manter o nível de consumo inferior ao praticado antes da pandemia. Destaca-se que o serviço com a maior redução durante a pandemia é também o que maior parcela da população pretende manter o consumo reduzido em 2021: Refeições em restaurantes para consumir no local.
Consumo após a pandemia
Mais de um terço da população pretende consumir menos do que consumia antes da pandemia
Pensando em 2021, comparando com o que era consumido de bens e serviços antes da pandemia, 35% dos entrevistados afirmaram que pretendem consumir menos. Já 22% pretendem aumentar o consumo na mesma comparação e 41% pretendem consumir da mesma forma.
“Consegui economizar durante a pandemia e quero continuar economizando”: esse foi o principal motivo para o desejo de reduzir o consumo (na comparação entre o praticando antes da pandemia e o planejado para 2021) para 25% entrevistados. Praticamente empatado no primeiro lugar, com 24% de assinalações, está a afirmação “pretendo mudar certos hábitos depois da pandemia”. Com percentual próximo, 21%, foi apontada a preocupação com a renda individual ou da família: “Minha renda ou de minha família caiu/ deve cair”. Outros 14% afirmaram ainda que “reduzi o consumo durante a pandemia e não senti falta”.
Em suma, as alternativas que refletem mudança de hábitos da população (consegui economizar durante a pandemia e quero continuar economizando; pretendo mudar certos hábitos depois da pandemia; e reduzi o consumo durante a pandemia e não senti falta) são a principal razão para a queda no consumo após a pandemia (somam 63% das respostas).
Poupança após a pandemia
32% da população conseguiu guardar mais dinheiro ou gastar menos do que antes da pandemia
Quase um terço da população (32%) afirmou que conseguiu guardar mais dinheiro ou gastar menos do que antes da pandemia. Esse percentual é maior entre os homens (36%, ante 29% das mulheres). É também decrescente de acordo com a idade: 44% dos entrevistados entre 16 a 24 anos afirmaram que conseguiram guardar mais dinheiro ou gastar menos do que antes da pandemia, ante 23% que tem 55 anos ou mais.
O percentual da população que conseguiram guardar mais dinheiro ou gastar menos do que antes da pandemia aumenta de acordo com o grau de instrução e renda dos entrevistados. Passa de 19% entre aqueles que cursaram até a 4ª série do fundamental para 43% entre os de ensino superior. E aumenta de 23% entre aqueles com renda familiar inferior a um salário mínimo para 47% entre os de renda familiar superior a cinco salários.
Incerteza e impossibilidade de consumir foram principais razões para a queda do consumo
Dos que afirmaram que conseguiram guardar mais dinheiro ou gastar menos do que antes da pandemia (32% da população), para 56% o principal motivo está associado aos riscos e incertezas trazidos pela pandemia: Não sabe quando as coisas voltarão ao normal; Reduziu gastos por precaução; Tem medo de perder sua renda; ou Tem medo de perder seu emprego.
Já 42% afirmou que não teve como gastar por conta da quarentena/ isolamento social. Esse percentual cresce de acordo com a renda e escolaridade do entrevistado, alcançando 57% entre aqueles com renda familiar superior a cinco salários mínimos e 48% daqueles que tem ensino superior.
Maior parte da população pretende poupar mais no próximo ano
Entre os entrevistados, 59% pretende poupar mais em 2021 do que poupava antes da pandemia. São 28% que não guardavam dinheiro antes da pandemia, mas passarão a guardar, 16% que já poupavam e pretendem poupar muito mais e 15% que poupavam antes da pandemia e pretendem poupar um pouco mais. Outros 9% poupavam e pretendem poupar a mesma quantia, enquanto apenas 5% poupavam e pretendem poupar menos. 24% da população não guardava dinheiro antes da pandemia e continuará sem guardar.
Faixa etária
A proporção da população que já poupava e pretende poupar muito mais é decrescente de acordo com a idade. Entre os mais novos, entre 16 e 24 anos, 24% pretendem poupar mais em 2021; o percentual se reduz para 10% na população com 55 anos ou mais. Desses últimos, 39% não poupam e não pretendem poupar em 2021, percentual que se reduz a 9% para os mais novos.
Renda familiar
A intenção de poupar é crescente de acordo com a renda, como se pode ver na tabela a seguir. Destaca-se o percentual da população com renda familiar inferior a um salário mínimo que não poupam e não pretendem poupar em 2021, 35%, ante 12% daqueles com renda familiar superior a cinco salários.
Considerando a população que pretende poupar mais (ou iniciar poupança em 2021), a principal razão para guardar mais dinheiro, apontada por 54% da população, é a vontade de ter recursos para usar em uma emergência. Em seguida, com apenas 8%, a vontade de pagar a educação dos filhos. As demais opções foram marcadas por percentuais próximos, como se pode ver no gráfico.
Considerando a parcela da população que pretende guardar menos dinheiro do que poupava antes da pandemia (ou que continuará sem guardar dinheiro), 50% afirmam não ter dinheiro suficiente para guardar, 14% afirmam que precisam pagar dívidas e 13% afirmaram não pretendem poupar porque tiveram queda em seus rendimentos.
O percentual que afirma não ter dinheiro para poupar é maior entre as mulheres que entre os homens (54%, ante 45%). Esse percentual aumenta de acordo com a idade (de 29% entre os mais novos, de 16 a 24 anos, alcançando 55% entre os de 55 anos ou mais). Além disso, a proporção que afirma não ter dinheiro para poupar se reduz de acordo com a faixa de renda familiar (de 54%, entre os de renda familiar até um salário mínimo, para 29%, entre os de renda superior a cinco salários) e também se reduz de acordo com o grau de instrução (de 60%, entre os que cursaram até a 4ª série do fundamental, em contraste com 32% entre os que cursaram ensino superior).
Por: Ibope Inteligência
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