Segmento, que representa 4% da produção cervejeira, aposta na premiumização do consumo e na disseminação da informação para conquistar novos adeptos e difundir a cultura da bebida.
Ale, Lager, Lambic, Pilsen, Bock, Tripel, Dubbel, Weizen. Estes são apenas alguns estilos de cervejas especiais que estão ajudando a movimentar o mercado da bebida premium no Brasil. Entre 2010 e 2013, a alta na quantidade de litros vendidos foi de 36%, enquanto as versões comuns apresentaram queda de 3% no país, segundo levantamento da Mintel. Apesar do potencial demonstrado, o segmento ainda representa apenas 4% do mercado.
O Brasil ocupa a terceira posição na produção mundial de cerveja, atrás de China e Estados Unidos, mas está na 17ª colocação no ranking de consumo por pessoa, de acordo com pesquisa da Kirin Beer University. O comportamento em relação à bebida, entretanto, está mudando por aqui. O aumento do poder aquisitivo da população, o maior acesso ao crédito e o crescimento das viagens internacionais criaram novas demandas no mercado interno. Com paladar cada vez mais exigente, o brasileiro está mais aberto para experimentar novos produtos, inclusive entre as cervejas.
Para se aproximar desse consumidor ávido por novidades, lojas e supermercados apostam na informação para estimular as vendas. “O mercado de cervejas especiais é uma tendência sem volta. Como em qualquer segmento, é necessário apresentar o produto para que haja consumo. É por isso que o segredo é treinar as pessoas, por meio de jantares harmonizados, degustações, distribuindo folders, realizando palestras para promover a cultura cervejeira”, afirma o especialista em varejo Robson Grespan, um dos responsáveis por disseminar rótulos premium pelos estabelecimentos varejistas, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Mercado em consolidação
Com o movimento, gigantes cervejeiras tiveram que se adaptar à nova realidade e algumas empresas incorporaram marcas já consolidadas no segmento premium ao próprio portfólio, como a Brasil Kirin, que adquiriu a Baden Baden e a Eisenbahn. Essa tendência começou a despontar alguns anos atrás, com a chegada das cervejas especiais ao Brasil, nos anos 1980, e o surgimento de cervejarias artesanais no fim da década de 1990 e início dos anos 2000.
No atual momento de consolidação, o novo mercado exige profissionais cada vez mais qualificados. Para manter a qualidade, acompanhando o crescimento das vendas, ocorre, hoje, o aumento também da oferta de cursos para atender a essa demanda. O Brasil conta com a Escola Superior de Cerveja e Malte, primeira instituição do tipo para formar mestres cervejeiros, além do Instituto da Cerveja, que forma beer sommeliers e oferece cursos para amantes e entusiastas da bebida e profissionais do setor.
Com salário inicial médio de R$ 5 mil, a procura pela formação aumenta. Desde 2010, quando foi fundado, o Instituto da Cerveja já formou 17 turmas de sommeliers em São Paulo, três em Porto Alegre e Blumenau e duas em Curitiba. “Para continuar impulsionando este cenário, é preciso que importadores, distribuidores e cervejeiros passem por um grande processo de profissionalização, como o vinho passou há cerca de 20 anos. É mais fácil fazer com que o brasileiro entenda que existem as cervejas especiais, porque essa bebida faz parte da nossa cultura”, defende Estácio Rodrigues, Sócio-Proprietário do Instituto da Cerveja Brasil, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Obstáculos: crise econômica e taxações
A economia que ajudou a impulsionar o segmento no passado, hoje, é uma preocupação para as empresas. “A taxação e as interferências na produção e na importação podem provocar o adiamento desse sonho de crescimento do setor. Mas, se o consumo continuar da forma que está, sem interferências externas, o cenário tende a se consolidar. É uma história sem volta”, acrescenta Estácio.
Um dos principais exemplos para os brasileiros, o mercado norte-americano conseguiu aumentar a oferta de cervejas artesanais, que hoje representam 10% da produção dos EUA. No país, as bebidas premium estão presentes em todos os bares e restaurantes, onde são vendidas sem grande diferença no preço em relação às comuns. No Brasil, no entanto, a falta de uma legislação específica prejudica o segmento, que sofre, principalmente, com a alta carga tributária. “Algumas cervejarias pagam cerca de 70% do valor do produto em impostos”, reclama o cervejeiro Alexandre Bazzo, Proprietário da Bamberg, de Votorantim, em São Paulo.
Criatividade movimenta o setor
As opções premium se diferenciam das tradicionais por serem produzidas com 100% de malte, abolindo o milho da composição, embora não haja regulamentação que garanta o respeito a essa pureza pela categoria. O sabor notadamente mais encorpado e forte, sim, é frequente.
Ainda assim, mistura de água, malte e fermento permite a criação de uma enorme variedade de receitas, com cores, intensidades e texturas diferentes. A infinita possibilidade permite que o mercado use a criatividade para alcançar novos públicos. Uma das principais ações é a criação de rótulos ligados a bandas de rock. Expressivos nomes do estilo musical brasileiro lançaram suas bebidas nos últimos cinco anos.
Para o setor, as cervejas ligadas ao rock permitem a exposição da bebida artesanal ao leigo, atraindo novos consumidores. Esses produtos, geralmente, estão agregados a brindes como canecas e camisas personalizadas. “Temos o cuidado em levar para a receita o estilo da banda, fazendo com que a experiência do fã com a bebida seja mais intensa”, explica Alexandre Bazzo, da cervejaria Bamberg, responsável pela elaboração de quatro rótulos ligados a grandes nomes do rock nacional.
Os eventos ligados à cerveja também são grandes impulsionadores do segmento. O destaque fica com a Oktoberfest, que ajuda a difundir a cultura cervejeira há 30 anos no Brasil. Realizada em Blumenau, em Santa Catarina, os 19 dias de festa atraem cerca de 600 mil pessoas de todo o Brasil, além de países vizinhos. Outros festivais menores acontecem em todo o país, principalmente nos estados nas regiões Sul e Sudeste, onde estão concentradas as microcervejarias e o consumo é maior.
Cervejas Premium movimentam e-commerce
Não são apenas as cervejarias artesanais e os supermercados que estão faturando. Antenados com o crescimento do setor, empresários apostam na venda pela internet, permitindo que o produto chegue a todos os cantos do país. Paralela às vendas online, o serviço de assinatura de cervejas surgiu como forma de atender ao público entrante, que ainda está conhecendo as novidades oferecidas.
Fundada há dois anos após o sucesso da loja física, a versão online do Clube do Malte registra crescimento exponencial: a empresa que começou o serviço de assinatura com 200 clientes no primeiro mês vai fechar 2014 com quatro mil assinantes. O e-commerce cria pacotes temáticos para atrair o consumidor, empacotando informação com as cervejas. “O Clube do Malte conta com um beer sommelier na equipe, que busca as opções para apresentar ao cliente. Os pacotes contam com uma caneca personalizada e um folder com informações sobre a bebida”, explica o empresário Douglas Salvador, do curitibano Clube do Malte, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Além das ofertas das versões premium pela internet, o setor de cervejas artesanais também é o responsável pela abertura de empresas online especializadas em vender equipamentos e insumos para os produtores caseiros. Com a disseminação da cultura cervejeira, aumenta o número de adeptos da brassagem, que reúnem os amigos para apreciar suas experiências. Para quem estiver pensando em produzir a própria cerveja, basta colocar a mão no malte e ter um pouquinho de paciência, pois a bebida leva cerca de 30 dias para ficar no ponto de consumo.
Por: Mundo do Marketing
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