Aumentou de 12% para 17% o percentual de consumidores que afirmam não sobrar dinheiro depois de pagar suas contas essenciais entre o último trimestre de 2013 e o mesmo período de 2014. O dado é da consultoria Nielsen, que realiza pesquisa internacional de confiança que também foca o Brasil. Para se ter uma ideia, a média global dos que afirmam não sobrar dinheiro é de 13%.
Os dados do País levantados pela consultoria mostram também recuo nas intenções de gastos não essenciais. Entre a sondagem realizada no último trimestre de 2013 e no mesmo período de 2014, a parcela dos que pretendem promover melhorias no lar encolheu 7 pontos percentuais, a dos que pensam em comprar roupas novas, 5, e a dos potenciais consumidores de novas tecnologias, 4.
“O baixo crescimento, a preocupação com relação ao emprego, o endividamento e principalmente a inflação criam um cenário mais difícil para o consumidor e comprometem a intenção de gastos”, diz Arlete Correa, gerente de atendimento a clientes da Nielsen.
A consultoria acompanha 137 categorias de consumo, como higiene, limpeza, alimentos e bebidas. O volume consumido desses itens ainda cresce, diz Arlete, mas o consumidor tem se esforçado para manter a cesta de compras que conquistou nos últimos anos. Ele é cada vez mais atraído por promoções, embalagens menores e canais de compra alternativos, como o chamado “atacarejo”, com preços em geral mais baixos do que nos hipermercados.
O estudo da Nielsen mostra que um luxo de que o consumidor não está disposto a abrir mão é o entretenimento fora de casa. O quesito ocupa a liderança das intenções de gastos do consumidor, apontado por 39% deles, dois pontos percentuais a mais do que um ano atrás.
A intenção de pagar dívidas recuou um pouco, mas aparece ainda em segundo lugar no rol de intenções.
Os planos para o orçamento também refletem um consumidor menos confiante. Na medição trimestral, o índice de confiança do brasileiro perdeu seis pontos e chegou a 95, abandonando a zona dos países com nota superior a 100, considerados otimistas. O país ficou também abaixo da média global, em 96 pontos. Foi o maior declínio trimestral brasileiro desde 2011 e a primeira vez desde então que o Brasil perdeu o reinado de confiança na América Latina. Naquele momento e novamente no quarto trimestre de 2014, os peruanos ultrapassaram os brasileiros.
Quando questionados se o País está em recessão, os brasileiros também se destacaram negativamente 73% disseram que sim no quarto trimestre de 2014, contra 51% um ano antes. É o maior nível para o Brasil desde que a Nielsen começou a apurar o sentimento, em 2008. O país está na contramão global, em que 58% dos 60 mercados medidos pela consultoria reportaram uma melhora anual no sentimento relacionado a recessão.
Na lista das principais preocupações para os próximos seis meses, a economia lidera, com 16%. Depois vem a saúde, com 14%, e o equilíbrio entre trabalho e vida, com 10%. O aumento das contas de energia e gás aparece em quarto na lista de 19 itens, seguido pela alta nos preços dos alimentos e pela segurança no trabalho.
A inflação é um ponto chave nesse cenário, na opinião de Arlete. Um espírito mais positivo por parte do consumidor deve surgir, diz, se a equipe econômica demonstrar capacidade de controlar o nível de preços.
Fonte: Valor Econômico
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