Classe A foi a que mais perdeu renda em 2016

É o que aponta levantamento feito pela Tendências Consultoria.

A classe A é aquela que mais tem visto a renda encolher durante a recessão. Levantamento feito pela Tendências Consultoria mostra que a massa de rendimentos real desse grupo recuou 2,9% em 2016, contra 2% na média geral, 2,1% na classe B, 0,8% na C e 1,4% nas classes D e E. O desempenho, para especialistas, é resultado da forma como os brasileiros no topo da pirâmide social estão inseridos no mercado de trabalho – a proporção de empreendedores é, de longe, a maior entre todos os grupos.

“A renda se confunde com o lucro das empresas, que é muito mais sensível aos ciclos econômicos”, afirma Adriano Pitoli, autor do estudo. Na classe A, grupo em que estão as famílias com renda mensal acima de R$ 16,3 mil, 28% dos chefes de domicílio são empregadores, contra 5% na classe C. A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua mostra que a massa de renda dos empregadores caiu 9,5% em termos reais entre janeiro e setembro de 2016, na comparação com igual intervalo de 2014, contra queda de 3,1% entre os trabalhadores do setor privado e recuo de 0,4% entre os conta própria, categoria mais precária, em que se encaixam, por exemplo, os “bicos”.

Esse processo, diz o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, atinge especialmente a parcela de emergentes das classes A e B, brasileiros que ascenderam socialmente no último ciclo de crescimento. “Ele não é o empregado qualificado, que consegue se recolocar ganhando menos. Ele é um comerciante, um empresário”, avalia. Pesquisa do instituto mostra que 51% do topo da pirâmide é formado pelos primeiros membros de suas famílias, que chegaram nessa posição empreendendo.

A fatia mais expressiva de empreendedores faz com que as classes A e B sejam mais propensas a recuar durante as crises, mas é essa mesma característica que as ajuda a tomar a dianteira no processo de retomada, diz Meirelles. A avaliação de Pitoli, que analisou a dinâmica da massa de rendimentos das classes sociais em todas as recessões desde 1998, é semelhante. “Primeiro acontece a recomposição do lucro das empresas, que só depois voltam a contratar”, afirma.

Assim, a estimativa da Tendências é que a classe A perca menos já em 2017, 0,6%, contra queda de 1,9% na massa real total, e que cresça expressivos 4% em 2018, ante avanço de 1,9% na média geral.

Consumo

Olhando pelo lado do consumo, Maurício de Almeida Prado, da Plano CDE, lembra que parte da renda mensal do topo da pirâmide é canalizada para os investimentos. Assim, o impacto da retração dos rendimentos sobre o varejo é diferente daquele observado entre os mais pobres, afirma o sócio-diretor da consultoria especializada nas classes C, D e E. “Quanto mais pobre, maior parte da renda fica no supermercado. O impacto negativo no consumo é direto”.

Ainda assim, diz Pitoli, o mercado de luxo não ficou imune à crise. Nos últimos dois anos, exemplifica, os lançamentos de imóveis residenciais de alto padrão recuaram bem mais que a média no país – 53,4%, conforme índice feito pela Tendências junto à Neoway-Criactive, contra 44% no total.

Em um primeiro momento, os gastos mais afetados são aqueles com serviços, diz Meirelles. “Ele passa a viajar de carro, em vez do avião, por exemplo. Em geral, tenta o quanto pode não fazer ‘downgrade’ de marca, para não sentir que está perdendo tanto”. A vantagem dos brasileiros “emergentes” é que eles “se viram melhor” do que a elite tradicional, completa o especialista. “Ele está acostumado a fazer economia, a pechinchar. Se for preciso, ele vai no atacado”.

Em 2016, a queda de 2% em termos reais na massa de rendimentos representa uma redução, em valores absolutos, de R$ 76,6 bilhões sobre o ano anterior. As perdas da classe A representam metade, R$ 39 bilhões, e as da classe B, outros R$ 21,4 bilhões. Em 2015, a massa foi positiva em R$ 5,3 bilhões, graças, em grande parte, aos ganhos de R$ 54,7 bilhões das classes D e E. As classes A e B perderam, respectivamente, R$ 46,2 bilhões e R$ 5,8 bilhões nesse período. A massa total inclui, além da renda do trabalho, a previdenciária e o benefício do Bolsa Família. Os dados e as estimativas da análise têm como base a Pnad anual e informações da Receita Federal.

Fonte: Valor Econômico

By | 2017-05-20T02:23:17-03:00 02 fevereiro, 2017|Categories: Consumo, Mercado, Pesquisas|Tags: , , , |0 Comments

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Mestre em Economia, especialização em gestão financeira e controladoria, além de MBA em Marketing. Experiência focada em gestão de inteligência competitiva, trade marketing e risco de crédito. Focado no desenvolvimento de estudos de cenários para a tomada de decisão em nível estratégico. Vivência internacional e fluência em inglês e espanhol. Autor do livro: Por Que Me Endivido? - Dicas para entender o endividamento e sair dele.

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