Geração do Milênio e o marketing em mídias sociais no Brasil

O Boston Consulting Group (BCG) realizou um estudo sobre a geração do milênio (também conhecida como “geração Y”) nos Estados Unidos, procurando identificar seus hábitos de consumo e entender melhor seu relacionamento com as marcas. A pesquisa envolveu entrevistas com 4000 membros da geração do Milênio – pessoas entre 16 e 34 anos – e 1000 indivíduos com idade entre 35 e 74 anos, definidos como “não-Milênios”. Para efeito de simplificação da linguagem, vamos nos referir aos membros da geração do Milênio neste artigo como “Milênios”.

Percepção e autopercepção dos Milênios

A primeira pergunta importante do estudo revela diferenças no modo como os Milênios percebem a si mesmos e como são percebidos pelos não-Milênios. Enquanto os Milênios descrevem a si mesmos em termos geralmente favoráveis, os não-Milênios usam palavras como “mimados” e “preguiçosos” com maior frequência.

Uma consequência fundamental dessa diferença de percepção é a vantagem que terão as empresas capazes de superar seus próprios preconceitos e de aceitar, compreender e explorar a autopercepção dos Milênios em suas ofertas de produtos e marcas.

Os Milênios, como se suspeitava, são notórios consumidores de tecnologia, sentindo-se extremamente confortáveis com as inovações tecnológicas. Veja alguns dados na tabela a seguir.

Produto                    Milênios              Não-Milênios

MP3 Players                72%                            44%
Games                         67%                            41%
Smartphones              59%                            33%
PC Desktop                 63%                            80%
Celulares comuns     46%                            66%

Mais tempo online, menos tempo diante de livros impressos e da TV. Somente 26% dos Milênios passam mais de 20 horas semanais diante da TV, contra 49% dos não-Milênios, sendo mais provável que o façam através de serviços online do que no aparelho tradicional.

Traços comportamentais e atitudes dos Milênios

Com relação às atitudes e comportamentos genéricos relacionados à geração, o BCG destaca 4 traços fundamentais do Milênios:

  • Imediatismo: Facilidade, rapidez, eficiência e conveniência são fatores extremamente valorizados em todas as relações de consumo. Como estão sempre apressados, uma questão chave para o marketing é determinar como fazê-los gastar mais tempo com sua marca.
  • Testemunhos: a autoridade mais confiável para testemunhar sobre a qualidade de um produto é o usuário com uma experiência de primeira mão para relatar, mais do que o profissional ou o acadêmico. A probabilidade de que um Milênio procure saber mais sobre uma marca nas redes sociais é de 53% contra 37% entre os não-Milênios.
  • Sociabilidade: Os Milênios usam a tecnologia para conectar-se a um número maior de pessoas, com maior frequência e em tempo real. Usam mais as mídias sociais, têm maior número de “amigos” e “seguidores” do que os não-Milênios, e concordam fortemente com a noção de que suas vidas são mais ricas quando estão conectados a pessoas nas mídias sociais.
  • Causas: Os Milênios acreditam mais em incorporar às causas a seu dia a dia, por exemplo, comprando produtos associados a uma causa, do que fazendo doações isoladas em dinheiro. Por outro lado, o engajamento em trabalho voluntário é bem menor do que esperado, tendo sido cunhada a palavra “folgativismo” (“slacktivism” em inglês) para descrever o engajamento que requer pouco esforço pessoal.

Segmentação dos Milênios

Sendo óbvio que há imensas variações individuais dentro de uma mesma geração, o BCG realizou um esforço de segmentação, identificando seis grupos principais.

  • Hip-ênios: Representam 29% do total. Identificam-se com a frase. “Eu posso fazer do mundo um lugar melhor”. Definidos como consumidores cautelosos, dotados de consciência global, espirito beneficente, ávidos por informação. São os maiores usuários de mídias sociais, mas não contribuem com muito conteúdo. A maioria são mulheres com empregos abaixo da média.
  • Gurus de gadgets: Somam 13% do total. Identificam-se com a frase “É um grande dia para ser eu”. Bem sucedidos, antenados, confiantes, sentem que esta é sua melhor década. São grandes consumidores de dispositivos tecnológicos e contribuem fortemente com conteúdo. A maioria é de homens solteiros com renda acima da média.
  • Mamães do Milênio: Somam 22% e sua frase é “Eu adoro fazer ginástica, viajar e mimar o meu bebê”. São ricas, confiantes, orientadas para a família, praticam atividades físicas. São íntimas de tecnologia, intensas em sua atividade online, altamente sociáveis e ávidas por informação. Podem se sentir isoladas em sua rotina diária. São mais velhas e com a renda mais alta.
  • Verde e Limpo do Milênio: Somando 10%, sua frase é “Eu posso cuidar de mim mesmo e do mundo à minha volta”. Impressionáveis, orientados para causas, saudáveis, verdes, otimistas. Contribuem com grande volume de conteúdo, normalmente relacionados a alguma causa. Em sua maioria são homens, jovens, hispânicos, estudantes em tempo integral.
  • Anti-Milênio: Representam 16% do total e sua frase é “Estou ocupado demais cuidando de meus negócios e da minha família para me preocupar com outras coisas”. Conservadores, com mentalidade local, não estão dispostos a gastar mais por produtos “verdes”. Procuram conforto e familiaridade em vez excitação, mudança ou interrupções em sua rotina. Maioria de mulheres, hispânicas, moradores do Oeste dos Estados Unidos.
  • Milênio da velha escola: Totalizam 10%. Sua frase: “O Facebook é muito impessoal, vamos nos encontrar para tomar um café”. Consumidores cautelosos, confiantes, independentes, autodirecionados. Gastam o menor tempo online entre todos os segmentos. São mais velhos e, mais provavelmente, hispânicos.

Consequências para o empresário brasileiro

É evidente que uma descrição de mercado em termos como os da pesquisa do BCG exerce um imenso impacto sobre as decisões de marketing das empresas atuantes nos Estados Unidos. Desde o conceito do produto até o seu design, distribuição, preço e comunicação, tudo deverá ser adaptado para adequar-se à descrição do seu consumidor-alvo, tendo em vista o seu comportamento e os seus valores. Entretanto, o fato da pesquisa ter sido realizada nos Estados Unidos pode suscitar a crítica fácil de que “a realidade brasileira é diferente e, portanto, esses resultados não servem para nossa realidade”.

Em primeiro lugar, é preciso considerar que a realidade brasileira não é estanque em relação ao resto do mundo. Cada vez mais, nossa população está conectada à internet, utilizando serviços e produtos móveis. Por exemplo, no mês de março de 2012, o número de celulares em todo o Brasil ultrapassou a barreira dos 250 milhões, sendo que os acessos 3G chegaram a 52 milhões.

Em segundo lugar, a atração da população brasileira pelas redes sociais sequer chega a ser novidade, como atesta pesquisa da Experian Marketing Services, que revela que os acessos ao Facebook no fim de semana já superam os acessos ao Google.

Em terceiro lugar, os serviços de redes sociais mais populares, sendo a maioria deles originários e sediados nos Estados Unidos, expõem nossa população ao convívio diário com os valores e comportamentos típicos da população americana, sendo natural uma absorção ainda que parcial dessa visão de mundo.

Em quarto lugar, a população brasileira também está exposta ao marketing nas redes sociais e também vai consolidando na posição de objetos de desejo os mais diversos gadgets tecnológicos, sendo natural o compartilhamento de informações sobre os diversos produtos.

Em quinto lugar, como o marketing está se tornando cada vez mais global, as marcas estrangeiras disseminam ao redor do mundo mensagens promocionais desenvolvidas com base em caracterizações de público-alvo geradas no mercado norte-americano.

Considerando todos esses fatores, embora evidentemente não seja possível dizer que os resultados da pesquisa do BCG se aplicam diretamente ao caso brasileiro, consideramos pouco razoável descartá-los aprioristicamente sem a aplicação de um estudo semelhante à nossa população.

O que o bom senso nos diz é que toda a informação em torno da geração dos Milênios e o imenso interesse pela expressão geração Y provavelmente acaba por gerar pelo menos um efeito de profecia autorealizável: os jovens passarão a crer que participam da geração Y com base no que leram sobre a geração Y e com base no que o marketing das empresas globais comunicam sobre esse público.

Sendo assim, os empresários brasileiros devem atuar cada vez mais nas redes sociais com o objetivo de coletar informações em primeira mão com esse público, registrando suas semelhanças e diferenças com o caso americano e usando esse precioso recurso para gerar vantagem competitiva sobre seus competidores internacionais.

Fonte: InCorporativa

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About the Author:

Mestre em Economia, especialização em gestão financeira e controladoria, além de MBA em Marketing. Experiência focada em gestão de inteligência competitiva, trade marketing e risco de crédito. Focado no desenvolvimento de estudos de cenários para a tomada de decisão em nível estratégico. Vivência internacional e fluência em inglês e espanhol. Autor do livro: Por Que Me Endivido? - Dicas para entender o endividamento e sair dele.

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