Siga as pistas sobre os gastos dos brasileiros até 2019

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Entre 2009 e 2014, as despesas anuais dos consumidores com um grupo de 16 categorias, que vão de roupas e alimentos a eletroeletrônicos, cresceram 4,2%. E o que acontecerá nos próximos cinco anos?

O varejo brasileiro viveu uma década de ouro, como costumam afirmar, em palestras pelo Brasil, os empresários Luiza Helena Trajano e Flávio Rocha, do Magazine Luiza e da Riachuelo, respectivamente.

De 2005 a 2014, o volume de vendas no setor cresceu. em média, 6,3% ao ano, bem acima do PIB (Produto Interno Bruto). Alguns segmentos do varejo chegaram a crescer até dois dígitos em apenas um ano.

A questão que hoje se coloca é: a fase áurea é uma página virada na história do varejo brasileiro?

A economia brasileira desacelerou, a inflação subiu, o desempregou aumentou, o consumidor está mais endividado e, além disso, perdeu a confiança na estabilidade do emprego. Na melhor das hipóteses, nas projeções de economistas, o país deve registrar crescimento zero neste ano.

Todos esses fatores colocam um grande ponto de interrogação sobre o futuro do varejo. Quais setores serão capazes de se dar bem (ou não) nos próximos anos?

A Euromonitor Internacional, consultoria specializada em pesquisa e análise de mercado, acaba de divulgar um estudo que pode dar algumas pistas sobre o comportamento do consumidor brasileiro nos próximos cinco anos.

A empresa selecionou 16 categorias de consumo, como vestuário e calçados, alimentos, eletroeletrônicos, comunicações e serviços médicos, e verificou os gastos anuais do consumidor em cada uma delas no período de 2009 a 2014.

Em seguida, fez uma projeção para esses gastos para o período de 2014 a 2019, considerando todos os fatores macroeconômicos que marcam a economia brasileira neste ano.

Todas as categorias selecionadas devem crescer, o que é uma boa notícia. Mas em ritmo inferior ao dos últimos cinco anos.

Na média, os gastos anuais do consumidor das 16 categorias listadas cresceram 4,21% ao ano, entre 2009 e 2014. A projeção da Euromonitor para os próximos cinco anos é de um crescimento médio anual de 2,4%, isto é, de 1,8 ponto percentual a menos.

Os gastos do consumidor com alimentos e bebidas não-alcoólicas, que subiram 3,62% ao ano, de 2009 a 2014, devem crescer 1,67% ao ano, no perído até 2019. No caso de roupas e calçados, os percentuais de crescimento diminuem de 3,83% para 2,09%.

Veja outros exemplos no quadro abaixo:

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Para a Euromonitor, o endividamento do consumidor impede que ele faça compras a prazo, contraindo, principalmente, as vendas de bens mais caros, como carros e eletroeletrônicos.

O orçamento mais apertado também provoca a substituição de marcas mais caras por mais baratas nas compras do dia a dia dos supermercados.

E, com a alta da inflação, na avaliação de analistas da Euromonitor, pode voltar até o velho hábito de anos atrás, quando a compra do mês era feita em um único dia na tentativa de evitar reajustes.

Tudo isso mexe com o desempenho de vários setores, não há dúvida, mas, segundo analistas da Euromonitor, pode ser uma situação mais conjuntural.

As conquistas do consumidor da última década vieram para ficar. Independentemente de o país enfrentar ou não uma forte recessão, o consumo de algumas categorias de produtos tem grandes chances de continuar crescendo, e com taxas até bem consideráveis nos próximos cinco anos.

As vendas do varejo de produtos para beleza e cuidados pessoais cresceram 7% ao ano no período de 2009 a 2014. Segundo projeção da Euromonitor, essa categoria de produtos deve crescer 6,6% ao ano de 2014 a 2019. No caso de games, o crescimento anual, de 8,1%, no período de 2009 a 2014, deve passar para 8,5%, de 2014 a 2019.

Um setor que chama a atenção, ainda segundo o levantamento da Euromonitor, é o de venda de passagens online: cresceu 17,7% ao ano, de 2009 a 2014, e deve crescer 10,7% ao ano, de 2014 a 2019. No caso de eletrodomésticos, o crescimento, que foi de 5,3% ao ano nos últimos cinco anos, deve passar para 4,5% ao ano até 2019.

Foco no bem estar do consumidor

“O que fica claro neste estudo é a tendência de aumento de demanda por bens e serviços capazes de melhorar a vida do consumidor. Nos últimos dez anos, o Brasil passou por uma fase de atendimento das necessidades básicas do consumidor. A partir de agora, ele quer mais produtos e serviços que tragam bem estar e que possam contribuir para melhorar a sua saúde”, diz Fábio Silveira, diretor de pesquisas econômicas da GO Associados.

Fazendo uma analogia, Silveira diz o seguinte: na década passada, o consumidor construiu a casa, agora ele quer equipá-la e usufruir um lar mais confortável. As compras de bens mais caros podem demorar um pouco mais do que o brasileiro previa, por conta das condições da economia, mas o desejo do conforto e de uma vida mais saudável veio para ficar.

A rede de supermercados Covabra, com 12 lojas no interior de São Paulo, nota que o consumidor está, neste momento, mais sensível e que existe uma tendência de troca de produtos mais caros por mais baratos, o que já se percebe, na verdade, desde o final do ano passado.

“Mas é algo leve. Algumas categorias de produtos estão em crescimento, mesmo neste ano, como a de alimentos orgânicos, sem glúten, com menos adição de açúcar, sal e sódio. Isso porque o consumidor está cada vez mais preocupado com a saúde, e isso não para mais”, afirma Ronaldo dos Santos, diretor da Covabra.

Consumo inibido

Não há dúvida de que este é um dos anos mais difíceis já enfrentados pela economia brasileira. A taxa de desemprego deve bater em 7% até o final do ano, e a inflação, a 8,5%, segundo projeção de Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra.

Só esses dois indicadores já são suficientes para inibir o consumo, sem contar que o crédito, que impulsionou a economia durante anos, também está mais caro. A taxa de juros básica da economia, a Selic, está em 13,25% ao ano.

Mas, na avaliação dos economistas Silveira e Kawal, o pessimismo que envolve a economia brasileira pode ter prazo para acabar. Isso explica o fato de os gastos do consumidor em16 categorias listadas pela Euromonitor apresentarem crescimento (embora menor do que nos últimos 5 anos) até 2019

Para Silveira, o volume de vendas do varejo deve cair 1% este ano, mas deve voltar a ser positivo, atingindo 2,5% de crescimento em 2018. Não chega a níveis de crescimento do passado tão rapidamente, mas volta a crescer.

Neste momento, a economia está se contraindo, o mercado de trabalho vai piorar, mas pode ter uma retomada da confiança, chegando ao final do ano já com algum crescimento na margem, isto é, sobre o mês anterior”, já afirma Kawal.

Até que a economia volte a ter mais fôlego, os lojistas precisam ter cautela. “O tino comercial vale muito neste momento. O lojista precisa prestar muita atenção no comportamento dos consumidores, o que ele prioriza, o que ele quer comprar. É importante ele perceber quais são as demandas específicas dos clientes do bairro. A qualidade do serviço passou a ser muito importante a partir de agora”, diz Silveira.

Algumas categorias são mais ou menos elásticas do que outras, no jargão dos economistas. Isso quer dizer que os setores de alimentos, medicamentos e higiene pessoal, por exemplo, são fortemente ligadas ao comportamento da economia.

Há outras que estão mais relacionadas com hábitos de consumo. “Há uma clara tendência de aumentar a alimentação fora do lar nas grandes cidades porque as pessoas trabalham fora. Há também uma tendência de as famílias deixarem de ter empregada, o que deve estimular a venda de eletrodomésticos e de comida congelada, por exemplo, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo.

Cabe ao empresário do setor contemplar todos esses cenários, considerando, sempre, esse fenômeno de mudanças de hábitos de consumo”, diz ele. São nesses detalhes que podem estar as oportunidades de crescimento de cada comércio, mesmo em ano de crise.

Por: Diário do Comércio

About the Author:

Mestre em Economia, especialização em gestão financeira e controladoria, além de MBA em Marketing. Experiência focada em gestão de inteligência competitiva, trade marketing e risco de crédito. Focado no desenvolvimento de estudos de cenários para a tomada de decisão em nível estratégico. Vivência internacional e fluência em inglês e espanhol. Autor do livro: Por Que Me Endivido? - Dicas para entender o endividamento e sair dele.

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