O início da recuperação da atividade econômica foi acompanhado de uma melhora modesta no padrão de vida do brasileiro.
O Produto Interno Bruto (PIB) per capita – soma de riquezas produzidas pelo país dividida por seus habitantes – cresceu apenas 0,2% em 2017, para R$ 31.587. Foi o primeiro aumento em base anual desde 2013. O brasileiro ainda vai esperar, porém, quatro anos para recuperar o padrão alcançado no período pré-crise.
Segundo cálculos da LCA Consultores, além do desempenho modesto no ano, o PIB per capita parou de crescer no quarto trimestre. O indicador recuou 0,14% frente aos três meses anteriores, na série com ajuste sazonal, após resultados positivos nas três leituras anteriores – crescera 1,1% no primeiro trimestre, 0,4% no segundo e 0,05% no terceiro trimestre de 2017.
“A economia cresceu forte no primeiro trimestre puxado pelo setor de agronegócio e indústria. Depois veio o consumo, com apoio do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) [liberação de depósitos de conta inativas]. Desde então, o PIB começou a desacelerar na margem e, como a população continuou crescendo 0,2% por trimestre, o indicador acabou de volta ao campo negativo no fim do ano”, disse Rodrigo Nishida, economista da LCA.
O problema adicional é que a recuperação da economia ainda não abarcou a todos. O mercado de trabalho absorveu uma pequena parcela do contingente de desempregados. No final do ano passado, 12,7 milhões de trabalhadores estavam na fila de emprego no país, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desses, 5 milhões estavam em busca de trabalho havia uma ano ou mais.
Além disso, a riqueza gerada é desigualmente distribuída. Dados da FGV Social mostram que a desigualdade subiu durante e depois da recessão, atingindo no fim do ano passado a maior concentração dos últimos 30 anos. De acordo com o IBGE, o índice de Gini – medida de desigualdade da distribuição da renda – foi de 0,549 em 2016, nível semelhante ao do Lesoto (0,542).
De acordo com cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, a recessão de 2014 a 2016 reduziu em 8,7% o PIB per capita do país, a segunda maior queda registrada desde 1900 – ou seja, em 116 anos. Essa perda de riquezas por habitante foi maior apenas do que na recessão de 1981 a 1983 (-12,3%).
Com a aceleração da atividade econômica daqui para frente, a expectativa é que o indicador inicie uma recuperação mais consistente. Nos cálculos da 4E Consultores, o avanço será de 1,2% em 2018 e de mais 2,5% no ano seguinte. O indicador deve recuperar o patamar de 2013 – ano pré-crise – dentro de quatro anos. A recuperação econômica será demorada, em parte, porque a população vai continuar crescendo.
O secretário de Acompanhamento Fiscal, Energia e Loteria do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida, concorda com a ideia de que o país levará um tempo para recuperar a renda per capita, que cresceu em ritmo menor que a economia.
“Vai demorar um tempo para recuperar a renda per capita, que está caindo desde 2014”, afirmou Mansueto, após participar de debate sobre o relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) sobre a economia brasileira, no Insper, em São Paulo.
Na estimativa do secretário, a renda per capita no Brasil acumulou queda de mais de 9% durante a recessão de 2014 a 2016. Para ele, a recuperação exige que a economia entre em um ciclo consistente de crescimento nos próximos anos. “Se a economia ficar crescendo em torno de 3%, você vai recuperar a renda per capita lá em torno de 2020 em relação ao que era em 2011”, prevê Mansueto.
Alejandro Padron, um dos sócios da 4E Consultoria, acredita que outros indicadores da economia sinalizam para uma melhora de bem-estar da população daqui para frente. “Temos uma perspectiva de melhora do mercado de trabalho, além de inflação menor, juros menores. Então, o consumidor já teve um medo maior sobre o futuro do que tem hoje”, disse Padron.
Fonte: Valor Online
Por: Supermercado Moderno
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