Dívidas no crédito rotativo passam de R$ 77 bilhões: como enfrentá-las

Juros do crédito rotativo estão entre os mais altos do mercado: passam de 437% ao ano, contribuindo para afundar o brasileiro em dívidas que se tornam impagáveis.

Quando o cliente não pode pagar o valor total da fatura do cartão, a dívida é jogada para o mês seguinte. Nessa situação, é indicada ao consumidor o crédito rotativo. Porém, os juros do rotativo estão entre os mais altos do mercado e, atualmente, estão em 437% ao ano. Já nas compras parceladas pelo cartão de crédito, os juros estão em 196% por ano, 16% ao mês.

Os juros rotativos são percebidos como uma ferramenta que contribui para endividar os brasileiros. Prova disso é que, em junho, dados do Banco Central mostraram que os brasileiros tinham R$ 77,46 bilhões em dívidas no rotativo do cartão. O valor dobrou desde junho de 2021, quando somava R$ 38,48 bilhões. Nos últimos dois anos, a inadimplência também deu um salto de 27,65% para 49,05%.

Como funcionam os juros rotativos do cartão de crédito?

Assim que a fatura mensal é fechada, o consumidor pode optar por pagar o valor mínimo até o total das compras do mês. Esse mínimo representa 15% das dívidas feitas ao longo do mês. Ou seja, caso o gasto no cartão tenha sido de R$ 1.000, o cliente pode pagar a partir de R$ 150. Porém, se o valor total da fatura do cartão não for pago no vencimento, o crédito rotativo passa a valer, gerando uma nova dívida em cima da parte não paga, que “rodou” para o próximo mês. No caso do exemplo, os R$ 850. Os custos mensais para postergar o pagamento são mais altos, com juros mensais que passam dos dois dígitos, adicionados no valor da dívida já existente. Ou seja, é uma dívida em cima de dívida, os R$ 850 mais os altíssimos juros para rolar esse pagamento para o próximo mês.

Além disso, em caso de atrasos na fatura do cartão de crédito, uma multa é cobrada pelos bancos. Essa multa está fixada em 2% ao mês, de acordo com a determinação do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Ainda existem os juros de mora, que equivalem a 1% ao mês. Ou seja, mensalmente são 3% a mais na dívida no cartão de crédito. No caso da fatura de R$ 1.000, mais R$ 30 são cobrados a cada novo boleto não pago integralmente.

O que dizem os bancos?

De acordo com a Febraban não existe pretensão de colocar um fim nas compras parceladas com o cartão de crédito. A entidade é uma das que está discutindo as razões para o Brasil ter juros tão altos no cartão e formas de redesenhar o formato do rotativo. A instituição, que representa grande parte dos bancos brasileiros, está em busca de uma solução que chegue à uma convergência entre os interesses dos bancos e que ao mesmo tempo não pese tanto no bolso do consumidor.

“Defendemos que o cartão de crédito deve ser mantido como relevante instrumento para o consumo, preservando a saúde financeira das famílias. Isso porque estudos indicam a necessidade de medidas de reequilíbrio do custo e do risco de crédito. Para tanto, é necessário debater a grande distorção que só no Brasil existe, em que 75% das carteiras dos emissores e 50% das compras são feitas com parcelado sem juros”, diz a Febraban em nota.

Estudos da Febraban mostraram que a inadimplência das compras parceladas em longo prazo é maior do que nas feitas à vista, cerca de duas vezes na média da carteira e três vezes para a população de baixa renda.

Por: Jessica Chalegra, Consumidor Moderno

By | 2023-09-04T14:24:49-03:00 13 abril, 2023|Categories: Consumo|Tags: , , |0 Comments

About the Author:

Mestre em Economia, especialização em gestão financeira e controladoria, além de MBA em Marketing. Experiência focada em gestão de inteligência competitiva, trade marketing e risco de crédito. Focado no desenvolvimento de estudos de cenários para a tomada de decisão em nível estratégico. Vivência internacional e fluência em inglês e espanhol. Autor do livro: Por Que Me Endivido? - Dicas para entender o endividamento e sair dele.

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