De: Juremir Machado da Silva (correio@correiodopovo.com.br) – 21/06/2010

Repito: nada tenho contra o marketing. Sou um baita marqueteiro. Ou tento. Faço marketing negativo. Falo mal de mim. Pega bem. Sem contar que sou especialista no assunto. É o único tema que realmente conheço. Pressionado por fãs, que eu também os tenho (estou bombando, são atualmente 29, sem contar a minha tia), vou apresentar algumas definições de marketing para vocês. Essas definições serão úteis em conversas fiadas, negócios malpagos e delírios gratuitos. Marketing é transformar alface, rúcula, radite e agrião em mix de folhas verdes. O gosto muda. Salada é out. Já era. Mix de folhas verdes é in. Mas in e out já estão ficando off.

Marketing é, na era do virtual, usar termos da revolução comercial para dar charme aos novos empreendimentos pós-industriais. Marketing é, por exemplo, transformar a antiga venda em armazém, o velho armazém em galeria, a ultrapassada galeria em centro comercial e o discreto centro comercial em shopping center. Marketing é converter padaria em delicatessen e livraria em armazém literário. Marketing é transformar barzinho de posto de gasolina em loja de conveniência. Marketing é trocar semana da moda por fashion week, manequim por modelo, modelo por top model, vedete por celebridade e prostituta por garota de programa. Marketing pessoal é comer pouco e pagar muito num lugar frequentado por poucos com muito dinheiro e servido por muitos com pouco dinheiro. Marketing de relacionamento é dizer bacana em vez de legal e cool em lugar de numa boa. Marketing é batizar de paseo um shopping hipermoderno.

Marketing de nerd é dizer offando para o ato de sair da Internet. Marketing de televisão é chamar apresentador de âncora para o jornal não afundar. Marketing é ter na ponta da língua uma nova língua para impressionar os novos e se separar dos velhos ou ter na ponta dos lábios uma velha língua para impressionar os velhos e se separar dos novos por meio de um efeito de erudição. Marketing de perua é ter um personal em vez de um auxiliar ou de escravo remunerado. Marketing é batizar os filhos de Lucas e Camila quando o povo prefere Joaquim e Maria. E batizá-los de Joaquim e Maria quando a massa prefere Richarlyson e Wallace. Como diz aquela propaganda, marketing é transformar seu negócio em business. Marketing é dar mais do mesmo como sendo mais com menos. Chamar, numa palestra, ingresso de passaporte. Numa viagem, passaporte de cartão de ingresso. Turbina.

Marketing é transformar aula de redação em oficina literária, carro usado em seminovo e oficina mecânica em pronto-socorro de veículos automotores. Está faltando marketing é no telemarketing brasileiro: vamos estar transferindo a sua ligação é linguagem de taipa. Quer dizer, linguagem de quem já transformou seu negócio em business, mas ainda não fez do seu freguês um cliente. Falta o pulo do gato, conhecido atualmente como upgrade. Marketing não é vender gato por lebre, mas mostrar que em todo gato existe uma lebre escondida. E vice-versa.