Intenção de consumo das famílias recua no ano

O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) apresentou leve alta (0,2%) em relação a julho. Apesar de ainda apresentar baixa taxa de desemprego, as incertezas quanto aos impactos da desaceleração econômica no mercado de trabalho refletiram-se negativamente sobre o índice na comparação com agosto do ano passado.

A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) apresentou leve aumento de 0,2% (135,6 pontos) na comparação com o mês imediatamente anterior e recuo de 1,0% em relação a agosto de 2011. O alto nível de comprometimento de renda e da inadimplência ainda impede uma escalada mais forte da disposição ao consumo. Além disso, mesmo com a manutenção do aumento real da renda e da baixa taxa de desemprego, as incertezas quanto aos impactos da desaceleração econômica no mercado de trabalho refletiram-se sobre a confiança das famílias, na comparação anual. Os índices se mantêm acima da zona de indiferença (100,0 pontos), indicando um nível favorável de consumo.

Na comparação mensal, alguns componentes relacionados ao consumo e ao mercado de trabalho apresentaram variações positivas. O otimismo se deu, em especial, pelos itens “Emprego atual” e “Renda atual”, não só pela manutenção do crescimento real da massa salarial, como, principalmente, pela base mais fraca de comparação, haja vista os sucessivos recuos dos respectivos componentes nos últimos meses. Mesmo com a elevação do índice agregado, a confiança ainda vem sendo atenuada pelo alto comprometimento da renda com o serviço da dívida, que impede uma maior disposição para gastos por parte das famílias, inibindo, assim, um crescimento mais forte da intenção de consumo.

Na comparação anual, após sete meses, a Intenção de Consumo das Famílias apresentou variação negativa (-1,0%), puxada por maior cautela em relação ao mercado de trabalho. Mais uma vez, todos os componentes da pesquisa relacionados ao emprego e à renda registraram recuo nessa base de comparação. Cenário econômico menos favorável e perspectiva de uma evolução mais lenta da atividade refletem-se diretamente sobre a confiança das famílias em relação à manutenção do emprego. Contudo, mesmo com recuo no período, esses componentes ainda se situam num patamar expressivo, o que indica que a confiança das famílias ainda é elevada.

Por faixas de renda, os cortes mostram que o resultado do índice na comparação mensal foi sustentado principalmente pelo aumento da confiança das famílias de renda mais baixa (até dez salários mínimos), com elevação de 0,3%. As famílias com renda acima de dez salários mínimos apresentaram retração de 0,9%. O índice das famílias mais ricas encontra-se em 141,7 pontos, e o das demais, em 134,5 pontos.

Na mesma base comparativa, os dados regionais revelaram que o aumento do índice nacional foi puxado pelas capitais do Sul e do Norte, que registraram variação de +4,5% e +2,7%, respectivamente. Assim, essas regiões apresentaram níveis de confiança de 142,1 e 130,9 pontos, na ordem respectiva.

Mercado de Trabalho: mais uma vez, todos os componentes apresentaram recuo

A perspectiva de uma evolução mais lenta da atividade vem impactando diretamente a confiança das famílias em relação ao emprego, na comparação anual. O índice registrou recuo de 3,2% na comparação com agosto do ano passado.

Contudo, a maior satisfação com o emprego em relação ao mês anterior acarretou um maior percentual de famílias que se sentem mais seguras (49,7%). A base mais fraca de comparação, além da manutenção do saldo positivo da criação de postos de trabalho e do baixo nível de desemprego, ainda alimenta o nível de confiança num patamar favorável.

A elevação do otimismo em relação à renda na comparação mensal (3,3%) não foi capaz de reverter o recuo anual (-1,1%). Mesmo no campo positivo, a desaceleração dos ganhos reais vem comprometendo a elevação da confiança das famílias nos últimos meses.

Um cenário mais adverso pode influenciar negativamente a confiança das famílias em relação ao mercado de trabalho. Contudo, a baixa taxa de desemprego e a sustentação do crescimento nominal dos salários poderão manter os ganhos reais ao longo do ano, mitigando uma maior deterioração dos resultados dos componentes relacionados.

Em relação às regiões pesquisadas, Sul, Centro-Oeste e Sudeste têm as famílias mais confiantes em relação ao emprego atual (147,5, 146,2 e 136,1 pontos, respectivamente), com variações anuais de +10,2%, -2,1% e -6,5%, na devida ordem. Por outro lado, as regiões Nordeste e Norte registraram menor nível de confiança, contabilizando 130,0 e 135,1 pontos, respectivamente.

Consumo: famílias mantêm maior disposição de elevar seus níveis de consumo

Os componentes “Nível de consumo atual” e “Momento para duráveis” apresentaram alta de 0,4% e 0,1%, respectivamente, em relação ao mês imediatamente anterior. Com exceção do item “Compras a prazo”, todos os componentes relacionados ao consumo apresentaram variações positivas, na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

Os resultados mensais ainda indicam que a demanda doméstica vem seguindo um ritmo moderado. O elevado nível de comprometimento da renda das famílias com o serviço da dívida ainda impede uma aceleração mais forte do consumo. Contudo, o processo de desalavancagem em curso – o qual se refletirá num menor nível de endividamento e inadimplência –, aliado às circunstâncias sazonais e aos efeitos defasados dos estímulos monetários e fiscais, poderá resgatar a perspectivas para o consumo nos próximos meses.

Por corte de renda, as famílias com renda até dez salários mínimos registraram elevação mensal no quesito “Momento para duráveis”, com variação de +0,1%, enquanto aquelas com renda acima de dez salários mínimos recuaram 1,7%. Regionalmente, esse indicador variou de 171,4 pontos (Sul) a 119,7 pontos (Norte).

Expectativas: incertezas em relação ao ritmo da economia impactaram negativamente a perspectiva profissional

As famílias mostraram-se menos otimistas em relação ao mercado de trabalho, tanto na comparação mensal quanto na anual. O indicador referente à perspectiva profissional registrou recuo de 1,2% em agosto.

Em relação ao mesmo mês do ano anterior, o índice apresentou variação negativa de 5,2%, com destaque para a redução de 8,3% nas expectativas das famílias com renda acima de dez salários mínimos, na mesma base de comparação.

O item “Perspectiva de Consumo” registrou, na comparação anual, alta de 0,6%. Nessa mesma base de comparação, as famílias com renda até dez salários mínimos registraram elevação de 2,0%, ao passo que aquelas com renda acima de dez salários apresentaram queda de 5,9%.

As regiões Nordeste (153,9 pontos) e Norte (145,0 pontos) lideram o ranking regional de otimismo em relação ao consumo.

Analisando as condições atuais e as perspectivas futuras da Economia doméstica, a previsão da Divisão Econômica da CNC é de que o volume de vendas do varejo obtenha um crescimento ao redor de 8,0% em 2012.

Sobre a Intenção de Consumo das Famílias:

A Pesquisa Nacional de Intenção de Consumo das Famílias (ICF-Nacional) é um indicador antecedente que tem como objetivo antecipar o potencial das vendas do comércio. O indicador tem capacidade de medir, com alta precisão, a avaliação que os consumidores fazem dos aspectos importantes da condição de vida de sua família, tais como capacidade de consumo, atual e de curto prazo, nível de renda doméstico, condições de crédito, segurança no emprego e qualidade de consumo, presente e futuro.

Os resultados da ICF podem ser avaliados sob dois ângulos. O primeiro é o grau de satisfação e insatisfação dos consumidores, por meio de sua dimensão, já que o índice abaixo de 100 pontos indica uma percepção de insatisfação, enquanto o acima de 100 (com limite de 200 pontos) indica o grau de satisfação em termos de seu emprego, renda e capacidade de consumo. O segundo ângulo é o da tendência desse grau de satisfação e insatisfação, por meio das variações mensais da ICF total.

A ICF é composta por sete itens. Quatro deles – emprego atual, renda atual, compra a prazo e nível de consumo atual – comparam a expectativa do consumidor em relação a igual período do ano passado. Os demais itens referem-se a perspectivas de melhoria profissional para os próximos seis meses, expectativas de consumo para os próximos três meses e avaliação do momento atual quanto à aquisição de bens duráveis.

Para o comércio, a ICF cumpre um papel altamente relevante, ao fundir as percepções pessoal e familiar, capturando informações em todas as unidades da Federação. Tais informações são obtidas a partir de 18.000 questionários analisados mensalmente. Outro fator que destaca a ICF ante outros indicadores antecedentes baseados na percepção do consumidor é o seu caráter de curto prazo. As avaliações do consumidor em relação ao futuro são tomadas em um horizonte que varia de três a seis meses.

Fonte: Pesquisa Nacional CNC

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By | 2017-05-29T00:02:10-03:00 24 setembro, 2012|Categories: Consumo, Mercado, Pesquisas, Varejo|Tags: , |0 Comments

About the Author:

Mestre em Economia, especialização em gestão financeira e controladoria, além de MBA em Marketing. Experiência focada em gestão de inteligência competitiva, trade marketing e risco de crédito. Focado no desenvolvimento de estudos de cenários para a tomada de decisão em nível estratégico. Vivência internacional e fluência em inglês e espanhol. Autor do livro: Por Que Me Endivido? - Dicas para entender o endividamento e sair dele.

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